Hoje em dia a turma para fazer uma festa faz a convocação pela internet usando os diversos aplicativos existentes. Antigamente era um pouquinho mais complicado. Meu pai Abelardo Carlos junto com Tio Jaime Rafael inventou de fazer uma have, naquele tempo um forró pé de serra até amanhecer o dia.
Começaram a avisar aos moradores dos sítios perto da Fazenda Cacimba Nova (imortalizada pelo poeta paraibano Zé Marcolino na música com o mesmo nome e cantada por Luiz Gonzaga). E como não podia deixar faltar, também o sanfoneiro Chico da Sanfona, que sempre tocou em todos os forrós da redondeza. Só que daquela vez, Chico não queria tocar e depois de muita insistência e na promessa que iria muita gente, que significava que o chapéu encheria várias vezes de dinheiro; prometeu ir, mas já dizendo que iria acabar cedo.
Na hora acertada o forró começou, o salão cheio de gente, o chapéu de Chico colocado estrategicamente em cima de um tamborete perto dele e os alegres casais dançando e os rapazes para “se amostrarem” para as moças iam enchendo o chapéu de dinheiro.
Lá pelas 11 horas da noite, no primeiro intervalo, Chico avisou que iria embora e foi aquele “deixe disso” que ele já havia recolhido o dinheiro algumas vezes e os rapazes, na sua timidez, ainda estavam começando a paquera com as moças. Ele não poderia sair senão os namoros não engatavam.
Depois de muito “puxincói” Chico novamente desatou a alça da sanfona e recomeçou o forró e foi aquela animação. Mas sanfoneiro insistindo que tinha que ir logo para casa naquela noite, só não dizia o motivo.
A barra do dia já estava aparecendo, os casais já estavam quase todos formados e resolveram dar uma parada para tomar um reforçado café para depois continuarem.
Quando procuraram o sanfoneiro Chico da Sanfona, viram que ele estava indo embora ligeiro com o instrumento nas costas. Meu pai correu atrás dele para saber o porque daquela pressa.
– Chico, o que está havendo? Disse parando a rápida caminhada. – O seu chapéu já encheu várias vezes, está todo mundo gostando da festa, você sempre tocou para nós. Qual o problema?
O músico olhou para meu pai quase implorando e disse – Seu Abelardo, eu disse que tinha que voltar logo, o motivo é que eu casei hoje!
*Administrador de Empresas