Findou Agosto e eu, sem gosto

Cresci ouvindo falar que agosto era o mês do desgosto! Pra mim, neste ano pandemônico de 2020, ele ganhou mais um título: o de mês sem gosto. Pois, lá se foram 30 dias, do início dos sintomas da minha Covid-19, e continuo sem sentir gosto e nem cheiro. Tem desgosto maior?

Embora, eu perceba que o gosto tá começando a dar sinais de retorno. Esses dias, fui comer uma maçã e tive uma sensação diferente, pois, mesmo sem tá sentindo gosto, sinto quando é doce, salgado, amargo, apimentado e ensaboado, que foi o caso. Como nessa pandemia fiquei, mais ainda, a “neurótica da limpeza”, meti sabão pra lavar a maçã e, na hora de enxaguar, devo ter tirado só uma parte. Será que foi por isso que minha boca chega ensaboou?

Só quero saber de uma coisa. Por que o gosto não volta na hora que eu tiver comendo um camarão no alho e óleo? Pelo simples fato de que só como camarão na festa duzôto e ninguém tá podendo fazer festa…

Pode não ter festa e eu posso tá sem sentir gosto e nem cheiro, mas, desejo eu tenho, viu! Minina, dia desses, tive uma vontade tão da mulesta de tomar um sorvete e tinha que ser daqueles de $ 2,00, no casquinho, que vende em shopping.

E lá fui eu, gastar gasolina, pagar $ 6,00 de estacionamento, rumo ao meu desejo de R$ 2,00. Quando chego ao quiosque, pedi um casquinho misto. A boca chega ficou cheia d`água. Pois, a moça foi logo cortando o meu barato e dizendo que não pode mais vender casquinho. Agora, é só no copo. Armaria! Não vejo graça.

Pensei logo como eu ia fazer pra socar o sorvete e comer o fundo do casquinho no final. Oh desgosto!

Mas, não teve jeito. Novo normal é isso mesmo. Faz a gente mudar o rumo de tudo, inclusive, dos desejos.

– Pode ser no copo mesmo!

Quando fui botando na boca, ela disse que não podia mais comer dentro do shopping.

– Oxe! E eu vou alugar uma casa pra tomar um sorvete, é?

– Não! A senhora pode ir comer lá no estacionamento.

Oh invenção! Saí pensando: Daqui que eu chegue lá, o póbi do sorvete vai tá todo se desmanchando.

Enfim, cheguei ao infame do estacionamento, procurei um lugar sossegado pra ficar, no meio dos carros; tirei a máscara e, quando, finalmente, ia satisfazer o meu sonho, virou pesadelo.

Pois num é que, naquele momento, apareceu um vento, que deve ter vindo lá da Antártica, só pra me sacanear. Só pode! Quando tirei o copo do sorvete de dentro de um saco, foi pedaço da minha vontade pra todo lado, menos pro lado onde deveria ir: a minha boca.

Sem desejo realizado, sem gosto e sem cheiro! Oh promessa sem jeito!

A minha esperança é setembro, o mês da primavera, da esperança e do colorido das flores. Pois, como diz Flávio Venturini, na música “Sol de Primavera”: “Quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos…o Sol de primavera abre as janelas do teu peito…”

Que em setembro eu volte, pelo menos, a sentir o cheiro da flores.

Eu vivo do jornalismo, desde quando me formei, no início dos anos 90. Até que em 2014 passei a desempenhar mais uma função: a de humorista. Há quem diga que sou uma jornalista engraçada e eu digo que o humor sempre esteve presente na minha vida. Desde criança. Afinal, sou filha de pais bem munganguentos. Aprendi com eles a rir de nós mesmos. Isso ajuda nos momentos mais sérios da vida. Há 10 anos, resolvi “empacotar” esse humor orgânico e botar “à venda” em forma de standup, textos, crônicas, podcasts e criação de conteúdo para o insta: @romyeschneider.

18 COMENTÁRIOS

  1. Romye, tem que olhar o lado bom, tanto faz comer picanha ou carne moída, camarão ou tatuí, água ou Coca Cola, mas, deixando a brincadeira de lado, que você fique boa logo, e se cuide. Deus lhe abençoe.

  2. Lindo texto amiga !!!
    Você é incrível, mesmo com anosmia você consegue ser engraçada e ao mesmo tempo humorada, mais tudo isso vai passar, e logo você estará sentindo cheiro e sabor, sua saúde será totalmente restabelecida. !!!!

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