Especialista fala dos efeitos da quarentena na saúde mental

O Brasil registra cerca de 12 mil suicídios todos os anos. No mundo, os números alcançam a marca de mais de um milhão. Na Paraíba, até julho deste ano, a Secretaria de Estado de Saúde, registrou 124 casos. No Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção ao suicídio, a campanha nacional realizada há cinco anos traz, em 2020, uma preocupação a mais: a pandemia da covid-19. Um estudo realizado nos Estados Unidos revelou que o número de suicídios aumentou em 32% durante a quarentena.

A psicóloga da MedPrev do Hapvida em João Pessoa, Rafaela Amorim, explica quais os efeitos que a pandemia exerce sobre a vida das pessoas para que o número de casos de suicídio tenha tido este aumento significativo. “Os efeitos em longo prazo da pandemia de covid-19 e a convivência prolongada com o estresse e desadaptação provocou também o surgimento de problemas de ordem psicológica e social, aumento dos índices de adoecimento psíquico da população, intensificando transtornos já existentes, além da vivência de eventos perturbadores e traumáticos, como violência doméstica, isolamento, solidão, luto, problemas financeiros, desemprego, tudo isto também pode contribuir para o aumento nos índices de suicídio”, esclareceu.

Dados da campanha Setembro Amarelo, que reúne a Associação Brasileira de Psiquiatria e o Conselho Federal de Medicina, no Brasil, cerca de 96,8% dos casos de suicídio são relacionados a transtornos mentais, como depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de substâncias, estando os jovens no foco dessa realidade. Diante dos números, a psicóloga afirma que os transtornos da mente apontados anteriormente configuram um fator de risco para prática do suicídio. Isso por estes gerarem sofrimento intenso e de difícil enfrentamento, despertam uma gama de sentimentos negativos como culpa, vazio, angústia, revolta, provocando também alterações cognitivas em quem vivencia, ou seja, uma maior tendência à supervalorização dos aspectos e vivências negativas e subvalorização das questões positivas.

Sendo assim, Rafaela Amorim, assegura que o indivíduo apresenta uma distorção na forma como enxerga a sua realidade. “Isto tem trazido alerta também para a população mais jovem, pois as mudanças hormonais que ocorrem na adolescência torna mais difícil o controle dos impulsos e a auto-regulação emocional, o que pode acarretar na impulsividade, comportamentos de risco, conflitos familiares, baixa autoestima, e em situações extremas, como violências e abusos, podem agravar o risco de suicídio nesta população”, pondera.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que para cada suicídio ocorrem 20 tentativas e a especialista explica quelguns fatores agravam esta situação, como o diagnóstico tardio, a falta de serviços suficientes de saúde mental, importância de alertar a população a respeito da prevenção, detecção precoce da vulnerabilidade emocional e o encaminhamento adequado para o tratamento. “É importante destacar que muitas destas pessoas não desejam a morte, mas o fim do sofrimento que carregam e o desespero de não enxergar soluções as levam a comportamentos extremos, como tirar a própria vida”, ressalta.

Identificando Sinais – A psicóloga do MedPrev do Hapvida, Rafaela Amorim, reforça que atitudes suicidas são cabíveis de identificação e afirma que é importante estar atento, mas deixando claro que não há uma “receita”. “O indivíduo em sofrimento pode emitir alguns sinais verbais em seu comportamento, como preocupação com a sua morte, falta de esperança, expressão de ideias ou intenção de tirar a vida, que jamais devem ser subestimada” afirma.
Ela lembra ainda que comentários do tipo “vou desaparecer”, “queria sumir”, “preferia estar morto”, “eu sou um peso”, “vocês vão se livrar de mim”, são mensagens que não devem ser ignoradas ou consideradas chantagens emocionais.

Acolhendo – A especialista assegura que é possível ajudar pessoas que dão indícios de atitudes suicidas. “É importante se mostrar solícito em acolher a pessoa com ideação suicida. Encontrar um momento apropriado para abordar o assunto, um lugar privativo, deixar a pessoa ciente que será ouvida, incentivá-la a buscar ajuda profissional de serviços de saúde, atendimento psicológico e psiquiátrico, não deixar a pessoa sozinha, entrar em contato com familiares e pessoas de confiança, assegurar que esta pessoa não tenha acesso a meios para provocar a própria morte (acesso a substâncias químicas danosas, armas de fogo, medicamentos, etc) e sempre ficar em contato com o que a pessoa está passando e o que ela está fazendo”, elenca.

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