A novela (reprise) da pandemia

Deurmedefenda da segunda onda dessa pandemia. Quem aguenta? A gente ainda tá na primeira e já sente os estragos de uma tsunami. Mas, neste momento, quero falar de outra onda, embora, não seja lá taaão grave. Mas, se irritante for sinônimo de grave, anote aí: é grave sim.

Tô falando da onda das novelas reprisadas. Avi! Eu num aguento! Sempre fui noveleira, mas, com reprise, não rola nenhuma marola (onda pequena)! Como é que a pessoa vai ter surpresa, susto, chorar e só faltar enfartar se já viu aquilo tudo? Nam! Novela tem que ser inédita, com uma ruma de drama pra pessoa chorar, sofrer e se descabelar como se o problema fosse seu.

Eu era tão apaixonada por novela, que, no interior, só saía pras festas quando não tinha mais nenhum capítulo pra passar, naquele dia. Lembro demais de “Final Feliz”; “Que Rei Sou Eu”; “A Viagem”; “Brilhante”, e por aí vai.

Na verdade, essa paixão começou quando eu era criança e morava no sítio. Vi uma tv, pela primeira vez, em Pombal. Não lembro da cena e, muito menos, da novela, mas, de uma coisa nunca esqueci: foi amor à primeira vista.

O tempo passou, fui morar em Pombal e chegou um dos dias mais felizes da minha vida: mainha comprou a nossa primeira TV. Uma Telefunken, de madeira, que, dias depois, dei uma queda tão do istopô, quando botava meu irmão pra dormir na rede, que a bicha quase se partia em banda, mas, isso é roteiro pra outra novela, inédita, pois, essa é que não quero reprisar mesmo.

Enfim, eu juntava os vizinhos pra assistir as novelas lá em casa. A melhor parte eram os comentários, entre um capítulo e outro. E assim, seguiu minha longa vida de noveleira, até que, já na capital, percebi que o meu HD tava tão entupido que enfarei, ou seja, tomei abuso. Como dizia o meu pai, fiquei mais enjoada que farofa de socó.

Mas, como o cão atenta, inventei de voltar a ver novelas, logo meses antes da pandemia chegar. E ela, não só chegou, como tirou as novelas do ar e tome reprise. Logo quando tava ficando viciada de novo em “Éramos Seis”, uma releitura (não era reprise, viu), de outra que tinha visto há muito tempo. Essa, como já tava no final, não tiraram do ar. Ainda bem! Deu pra ver tudo! Só não deu pra aprender como Glória Pires conseguia ser uma mãe tão educada e tranquila, mesmo tendo quatro filhos e um marido sem futuro que só fazia atrapalhar a vida dela. Se ela soubesse que tinha uma pandemia num pé e noutro pra chegar, duvido que tivesse tanta paciência.

Já as novelas “Amor de Mãe” – tome tema familiar e “Salve-se Quem Puder” – mais leve, foram tiradas do ar e haja reprise.

Vôte! Dá logo um nó no juízo. Cheguei um dia na casa de mainha e inventei de ficar assistindo. Num instante, vi uma cena do ator Humberto Martins com uma atriz/personagem. Só foi o tempo de eu ir tomar água e, quando voltei, o caba já tava com outra mulher. Parecia o 7 x 1 do Brasil e Alemanha.

– Oxe, mainha, como é isso? Esse ator é casado com duas mulé, na mesma novela, é?

– Não, minina! São duas novelas com o mesmo ator.

Varei! É nisso que dá a tal da reprise. Por isso que não gosto e acho que nem alguns artistas, a exemplo de Glória Pires. Se fosse reprisar Éramos Seis ela ia ficar com oito filhos. Duvido que continuasse com aquela paciência e tranquilidade invejáveis.

Ah meu pai! Fiz igual à tia Gipce, de 75 anos. Ela passa tanto tempo em frente à tv, que já participa das novelas e comerciais. Sabe aquele da Aids em que um rapaz, de olhos vendados, cai de uma corda bomba e passa mil vez, por dia? Toda vez, ela diz:
– Pia! Lá vai esse caba besta meter o pé do ouvido no chão, de novo. Ele sabe que vai cair, mas, toda vez, sobe nessa corda. Também de olho fechado, quem não cai, né?

Outro dia, eu tava passando na sala, quando uma personagem de uma novela deu boa noite e ela respondeu, em cima da bucha:

– Boa noite!

E continuou lá, na cadeira de balanço, com seus amigos das novelas e comerciais reprisados. E eu, cá, com meus abusos de reprises.

Eu vivo do jornalismo, desde quando me formei, no início dos anos 90. Até que em 2014 passei a desempenhar mais uma função: a de humorista. Há quem diga que sou uma jornalista engraçada e eu digo que o humor sempre esteve presente na minha vida. Desde criança. Afinal, sou filha de pais bem munganguentos. Aprendi com eles a rir de nós mesmos. Isso ajuda nos momentos mais sérios da vida. Há 10 anos, resolvi “empacotar” esse humor orgânico e botar “à venda” em forma de standup, textos, crônicas, podcasts e criação de conteúdo para o insta: @romyeschneider.

3 COMENTÁRIOS

  1. Kkkkkkkkk Muito muito. Imagina mesmo a reprise da segunda onda da COVID? Ainda bem que a vida não tem reprise, neh? Poderia ser fatal os tropeços e atropelos da vida. Rsrsrsr
    Kkkkk imagino a aflição da queda da TV. O bem mais precioso da casa. Rzrsrsr

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