Com apenas um clique na tela do dispositivo móvel é possível alcançar um nariz mais fino, remover manchas do rosto e uma infinidade de possibilidades são obtidas através do uso de filtros ou aplicativos que promovem a edição de imagens. Tudo com o intuito de mostrar a melhor versão nas redes sociais.
Para o cirurgião plástico do Hapvida em João Pessoa Mario Augusto Souto a implantação de filtros e aplicativos de edição contribui para que as pessoas estejam sempre em busca da imagem perfeita. “Os filtros fazem mudanças de características que na vida real são impossíveis, como por exemplo, a cor dos olhos que mesmo com lentes sofisticadas sempre se percebe que não é natural, portanto impossível de se atingir criando expectativas inatingíveis na cabeça dos usuários”, declara.
A psicóloga do Hapvida em João Pessoa, Rafaela Amorim, afirma que a internet, de uma forma geral, tem contribuído para a criação de padrões de beleza irreais devido às alterações possibilitadas por aplicativos. Além de gerar insatisfação nos indivíduos, que se sentem inferiores ao se compararem a padrões, como os da internet, causando cada vez uma preocupação excessiva com a sua própria imagem.
“Quando esta preocupação se torna excessiva ao ponto do indivíduo não conseguir mais lidar com sua imagem real, sempre recorrendo a transformações, sejam através dos filtros ou até mesmo de procedimentos para modificar suas características, sempre olhando de forma exagerada para o que o incomoda, esse indivíduo deve atentar para o risco de desenvolver o distúrbio de imagem”, esclarece a especialista.
Uma pesquisa realizada pela Academia Americana de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva Facial em 2019, mostrou que 72% dos cirurgiões sentiram o aumento da procura por procedimentos para ficar bem em selfies, taxa que saltou 15% em relação a 2018. No Brasil, a busca por procedimentos estéticos no rosto aumentaram também. Mario Augusto atribui essa crescente busca pela imagem perfeita ao fenômeno das redes sociais, onde as pessoas “postam um mundo perfeito, de fantasia e acabam fantasiando, inclusive, sobre a própria imagem”, afirma.
Geração Selfie – O cirurgião plástico lembra que existe uma relação entre as cirurgias plásticas como uma forma de alcançar o “perfil ideal para selfie” nessa era da conectividade, em que “o eu faço, eu mostro”. Para o especialista, os filtros que mudam a forma do nariz, de orelhas, da face, do bumbum, acabam “banalizando procedimentos que podem ser muito invasivos na vida real”, enfatiza.
Para Mario Augusto Souto, o sistema se auto alimenta, pois a busca por mais curtidas faz a pessoa gastar mais tempo escolhendo a melhor foto do que vivendo aquele momento. “Como isto leva a mais curtida acaba deixando as pessoas reféns delas mesmas”, afirma.
O médico lembra ainda que quando o grau de ansiedade ou de exigência em alcançar um objetivo se torna maior que os riscos ou possíveis danos à saúde causados por estes procedimentos é preciso buscar também um suporte com profissional que atue com questões de ordem psíquica.
Autoestima – Diante do exposto pelo cirurgião plástico, a psicóloga Rafaela Amorim assegura que a autoestima é um dos pilares da saúde psíquica do indivíduo e que a maneira como este se enxerga, se valoriza, confia em si mesmo e reconhece seu próprio valor é fundamental para sua segurança em si e para seu crescimento pessoal. “É necessário que o indivíduo identifique seus pontos fortes e fracos de forma realista, pratique o autoconhecimento com ajuda de terapia, não busque por perfeição, já que o perfeccionismo em excesso também traz prejuízos”, reforça.
A especialista acrescenta que “é importante também aprender a reconhecer, admirar as próprias qualidades e cultivar uma boa saúde física e emocional, através do exercício físico visando não o estético, mas o autocuidado e a saúde do corpo e da mente, juntamente com a psicoterapia”, finaliza.