“Tenho razão para sentir saudade de ti, de nossa convivência em falas camaradas, simples apertar de mãos, nem isso, voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre a certeza e segurança”. O trecho do poema ‘A um ausente’ de Carlos Drummond de Andrade provavelmente deve revelar a saudade guardada no peito de milhões de brasileiros que perderam alguém para a Covid-19 ou que se viram distantes dos amigos, parentes e colegas.
Neste sábado (30), data em que se celebra o Dia da Saudade, a psicóloga do Sistema Hapvida em João Pessoa, Rafaela Amorim, explica que a saudade é um sentimento complexo, mas que se refere à falta de algo, alguém ou alguma situação importante para nós. “Sentimos saudade por algo que queremos reviver e esta emoção não vem isolada, ela está associada a uma série de outros sentimentos: alegria, tristeza, angústia, luto, nostalgia, melancolia”, esclarece.
A psicóloga reforça que a saudade envolve a capacidade de o ser humano se relacionar com o mundo, com as pessoas que ama e com a própria história. Rafaela pontua que a saudade possui duas faces: a benéfica e a maléfica. No primeiro caso, pode ser visto como algo positivo pelas memórias que acompanham o indivíduo. “Por mais que o tempo não volte, sentir saudade promove a lembrança de momentos felizes”, afirma.
A saudade permite ainda conduzir uma pessoa a refletir sobre o que foi vivido, aprender e a conectá-la com o que/quem ama, permitindo a sensação de pertencimento, tão importante para os indivíduos. Além de fazer desejar reviver, sonhar, compreender aspectos importantes da vida, fazendo com que a pessoa se reencontre com a própria história.
Por outro lado, a especialista esclarece que existem outros níveis de saudade, quando está associada a sentimentos como angústia, luto, ansiedade, frustração, incertezas, perda. “Dependendo da intensidade, duração e distância, pode trazer intenso sofrimento ao indivíduo, sob forma de tristeza, frustração, desamparo, problemas físicos e emocionais”, elenca e acrescenta que: “neste sentido, buscar apoio social, psicológico, religioso, se comunicar, recordar boas lembranças, trocar afetos e outros recursos facilitam a aceitação”, sugere a psicóloga.