Fim do bloqueio criativo

Um dia desse, peguei emprestado de Clarice Lispector palavras de um texto onde ela fala sobre estar exausta. Uma frase, em especial, me chamou mais atenção porque tinha a ver com o meu momento: “Estou exausta de tirar ideia de mim”.

Por isso, fiquei um tempo sem escrever para esta coluna. Minha criatividade tava igual a um cano de pia entupido. Nem saía e nem entrava nada. Fiquei sabendo que o nome desse fenômeno é bloqueio criativo. Achei lindo e chique! Parece nome de livro, de filme, que por um tempo passou a nomear os meus dias pandemônicos.

Agora, voltei com toda gota serena. Saí “desentupindo” tudo que era de “cano”. E o “produto” que usei pra isso foi parar e prestar atenção. Falar menos – acredite, milagres acontecem, e observar mais. E ainda têm umas situações que vão ajudando a desbloquear a criatividade. Como essa que me aconteceu recentemente.

De forma inesperada, uma pessoa me chega e faz a seguinte pergunta: quem é você?

– Oi? E é assim, na tora? Não tem nem um beijinho antes, pra ficar mais leve? Brincadeira à parte, pensei: que mulesta de pergunta é essa, em plena pandemia?

E eu sei lá quem sou eu – respondi. Se eu já não sabia, antes da pandemia, imagine agora. É como se tudo o que a gente aprendeu, tivesse ficando emboloado. Tamo tudo voltando ao jardim de infância, de forma remota, é óbvio.

E tem mais. Se antes da pandemia eu já achava que o juízo não era algo que ganhava muito destaque na minha vida, agora foi que deu o istopô balaio.

Mas, independente de pandemia, creio que essa pergunta sempre foi e será a mais difícil de todas. Em todo planeta. Digamos que é a “pandemia” das perguntas.

Mas, Cora Coralina dá uma dica, muito importante, de como responder a essa famigerada pergunta:

“Sou feita de retalhos.
Pedacinhos coloridos de cada vida que passa pela minha e que vou costurando na alma.
Nem sempre bonitos, nem sempre felizes, mas me acrescentam e me fazem ser quem eu sou.”

É isso! Será que respondi?

Eu vivo do jornalismo, desde quando me formei, no início dos anos 90. Até que em 2014 passei a desempenhar mais uma função: a de humorista. Há quem diga que sou uma jornalista engraçada e eu digo que o humor sempre esteve presente na minha vida. Desde criança. Afinal, sou filha de pais bem munganguentos. Aprendi com eles a rir de nós mesmos. Isso ajuda nos momentos mais sérios da vida. Há 10 anos, resolvi “empacotar” esse humor orgânico e botar “à venda” em forma de standup, textos, crônicas, podcasts e criação de conteúdo para o insta: @romyeschneider.

10 COMENTÁRIOS

  1. Adorei Romye respondeu sim, eu no meio dessa pandemia tive que concluir a minha tese defendê- la , fiz na tora, buscando os últimos neurônios remanescentes !! Deu certo e há 15 dias defendi e passei, sou Doutora em saúde, triste fim, saúde no meio dessa pandemia !!!

  2. Maravilhosa resposta!!! Tão você, tão nós nesse momento que exige tanto, com a leveza e o jeito único Romye de ser, de encarar a realidade e os desafios com respostas únicas , sinceras e divertidas!!!! Sucesso na sua nova casa!

  3. Obg, amore! Coisa boa tê-la por aqui! Sucesso a vc tb nessa empreitada nada fácil que é ser gestor de saúde, independente do espaço.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui