“Jesus” e o meu primeiro scarpin vermelho

Provavelmente, seja o último também. Bastou um dia me amostrando com o sapato novo e ele quase esfola os meus lindos pés acostumados com currulepe e alpercata. Primeiro que não gosto de nada prendendo os meus pés, meus dedos, unhas, etc e tal. Só uso tênis pra caminhar ou pra trabalhar quando tô com vergonha de ir com a mesma sandália todo dia, a semana toda, o mês todo, o ano todo…

Mas, você deve tá se perguntando o que “Jesus” tem a ver com isso. Você nem imagina o quanto. Primeiro, que, tudo que recebe o nome de Jesus parece dá certo. Quando eu era pequena, lá em Pombal, sempre que ia à igreja e não entendia nada do que se passava ali, uma coisa eu percebia: Jesus era um nome bonito, que me chamava atenção e me passava a ideia de uma pessoa boa que só queria o bem do outro.

E a partir dali, comecei a observar o nome de Jesus em tudo que é canto e até em gente. Em homem, na maioria das vezes. Mas, como na minha terra tudo é diferente, afinal, um lugar que tem uma filha batizada como Romye Schneider, sendo ela uma menina do sítio, no caso, eu, nada mais há de se estranhar, em relação a nomes.

Apoi, lá vai! Em Pombal, tem uma mulher chamada “Jesus”. Na primeira vez que mainha chamou esse nome, quase dou um passamento:

-Minha filha, vamos ali na casa de Jesus!

– Oxe, e ele mora aqui em Pombal, é?
– Sim – e pra meu espanto, ela não só sabia que Jesus era pombalense, como tinha o endereço – Descendo ali na rua Domingos Medeiros, como se fosse pro cemitério novo, entra à direita (esqueci o resto).

“Tranquila” como sempre fui, tava bem pouquinho ansiosa. Será que, finalmente, eu ia ficar frente a frente com Jesus? O que precisava fazer? Ficar de joelho? Foi quando escutei mainha sentenciar:

– Chegamos!

Minina, eu tremia mais do que motor de rural em estrada de barro e continuava com a ideia fixa de como me comportar na frente de Jesus.

– Precisa rezar? Qual a oração?

– Criatura, você tá variando, é? “Jesus” é o nome da dona da loja de sapatos que te trouxe pra escolher uns três pares.

Fiquei tão abestalhada com toda essa confusão, que nem prestei atenção quando ela falou dos sapatos. Até que a ficha caiu e aquele lugar passou a ter algo de sagrado pra mim. Comprar sapatos era um dos melhores momentos.

Em dia de compras, eu nem dormia de tanta felicidade. E confesso que passava a noite abrindo caixas e apreciando os meus presentes. E digo mais: ainda sou assim até hoje. O scarpin vermelho que o diga. Tanta coisa mudou de “Jesus” pra cá. Só uma coisa permanece igual: a caixa do sapato do lado da cama. É importante manter esse encantamento. Nem que no outro dia o sapato deixe os meus pés tudo estrupiado.

Só Jesus na causa e “Jesus” nas vendas!

O humor sempre esteve presente na minha vida. Desde criança. Afinal, sou filha de pais bem munganguentos. Até hoje, pra onde me bulo, vejo uma coisa engraçada. Mesmo nos momentos mais sérios. Há oito anos, resolvi “empacotar” esse humor orgânico e botar “à venda”, em forma de standups, textos, crônicas, podcasts e vídeos postados nas redes sociais. No insta: @_romye e no youtube: Romye Schneider. Divido tudo isso, com o jornalismo, profissão que amo e exerço há 30 anos.

Deixe uma resposta para Anônimo Cancelar resposta

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui