Comum a linguagem feminina em cujo dia lhe é dedicado, mês de março, de que não há nada a comemorar. Tal rifão também atinge outras categorias da sociedade. Em parte, válida para os tempos presentes, mas expressões de quem ignora o passado. Na verdade, a força masculina supera em número, porém quando corre ao par com o sexo oposto, há igualdade na intrepidez, na bravura, nos dizem os grandes embates e pedregosas batalhas.
Dentre as intrépidas mulheres guerreiras do Brasil, sem desmerecimento às demais, inclusive as anônimas e não biografadas, cingir-me-ei, por uma questão de calendário, à corajosa revolucionária catarinense de Laguna, Ana Maria de Jesus Ribeiro, pois aí nasceu, há dois séculos, 30 de agosto, marco de seu bi-centenário. Mais tarde, Anita Garibaldi. Sem acesso à educação, portanto não lia nem escrevia, porém acompanhava seu pai, tropeiro, nas viagens a São Paulo. Aprendeu com ele, com que maestria, montaria a cavalo.
Com dez anos, em 1831, início do período regencial, já se sentia incomodada ao ver os interesses monárquicos sobreporem e oprimirem o povo brasileiro. A ocorrência de generalizadas rebeliões contra os mandões do País, da política monarquista, a exemplo da Revolta do Malês (1835), a qual se seguiram tantas outras até chegar-se à Farroupilha (1835-40), foram uma forma de reação. Dois anos depois falece seu genitor, Bento, assumindo ela funções patriarcais. Impelida pela família pouco depois casa-se com um conservador e legalista, o que, obviamente, não batia com seus brios ideológicos.
Os farrapos, em 1839, agora comandados por um marinheiro italiano, refugiado no Brasil, Giuseppe Garibaldi, tomam a cidade de Laguna, proclamando a República Juliana. Anita passa a conhecê-lo e com ele vivencia intensa paixão, dele recebendo ensinamentos de arte e táticas militares. Assim, aos 18 anos começa sua vida de soldado, participando de várias refregas e vitórias, por terra e por mar. Em 1840, grávida é feita refém pelas tropas imperiais, e ao escapar dessas rédeas os dois se mudam para Uruguai, marcando presença na “Guerra Grande”, pela independência da então Cisplatina. Em 1847, segue, definitivamente, para Itália, misturando-se aos defensores da unificação do país. Recebe, então, o título de “Heroína de Dois Mundos”. Vestia, com simplicidade, roupas masculinas. Morre, ao completar 27 anos, em 1849.
Destemida, empunhava a causa do Partido Comunista, em favor da opressa população brasileira. Seu nome serviu de designação para o de Anita Leocádia Prestes, que demorou um pouco a chegar, na prisão de Barnimstrasse, Berlim, onde se encontrava sua mãe .
Jornalista