Ei, num me empurre, não! Me falou ele, ao descer os degraus de um mercadinho, cai aqui, cai acolá, dando uma gaitada. Ali mesmo, naquele curto espaço de tempo, usou vários verbos: sentenciou, respondeu e se desculpou, rindo e muito.
-Tô brincando! Num foi você que me empurrou não. Eu tô é bebo.
– Se o senhor não tivesse dito eu nem tinha notado. Mas, me diga como o senhor chegou aqui, pelascaridade? Por esta pista perigosa, foi?
Novamente, ele deu uma risada.
– Moça, eu só não morri ainda, porque não quis!
Agora, foi a minha vez de rir. Achei a frase bem poética. Ele disse de um jeito engraçado e com muita leveza. Perguntei pra onde ia e respondeu:
– Tô tentando ir pra casa, mas, quando penso que vou levar carão da mulher e da filha que escondeu a chave do meu carro…
-Para tudo! É sério isso? O senhor dirige quando tá desse jeito?
– E eu num já disse que só não morri ainda, porque não quis.
-Vala!
E lá se foi ele, caminhando pela pista perigosa, dessa vez, “escoltado” por um monte de menino de bicicleta, dando gaitada, certamente, até chegar em casa quando ia levar carão.
Ele tem 70 anos e mora na praia de Búzios, no Rio Grande do Norte, onde fui passar o Natal. O encontrei na entrada do mercadinho, mas, desisti de entrar diante da boa prosa que arrumei por ali, na calçada mesmo. Nem deu tempo de perguntar o nome. Por isso, o batizei assim: o bêbado é um equilibrista.
Adoro conhecer pessoas e ali vivi um dos melhores momentos da viagem, com muita risada, falando muito, bem alto e o papo fluindo. Bem eu. Sem tramela.
Feliz Natal e que 2022 venha cheio de momentos leves onde a gente se encante muito!