Alfenim roubou a cena

Tô vendo a hora começar a dar autógrafo. Não! Não é de mim que tô falando. É do alfenim, uma delícia feita de rapadura, que teve no meu aniversário e fez mais sucesso que eu. O sabor de infância e de diversão, no “ritual” do puxa, estica, é sucesso na certa!

A primeira semana de 2022 passei na minha terra, Pombal. É claro que, cada ação, virava uma postagem. Subindo serra, na piscina, quase entalada no escorrego, caindo do balanço, metendo o quengo no chão, bolo de aniversário e até cachaça com frutas que inventei de provar e, até agora, ainda tô com o gosto da bicha enganchado na goela. Mas…nada, absolutamente, nada, fez tanto sucesso como a publicação, totalmente despretensiosa, do alfenim. Fiquei impressionada com a repercussão.

Foi só o tempo de botar nas redes sociais e muita gente perguntou o que era; outras pessoas lembrando da infância; outras querendo saber se o nome era puxa-puxa e um monte pedindo pra fazer uma postagem exclusiva do alfenim. Até o próprio Joanildo Mendes, dono desse portal, sugeriu que eu escrevesse algo sobre o delicioso doce.

https://www.instagram.com/_romye/reel/CYaU4t5Kily/?utm_medium=share_sheet

Apoi lá vai a história do alfenim no dia em que completei 53 anos! Assim que cheguei em Pombal, pensei: por que não um alfenim? Fazia tempo que eu não comia. Como era a semana do meu aniversário, apelei pra minha prima, Kelle, fazer. Aprendeu a receita com a mãe dela e minha tia, Cliúcia. Sinto saudade até dos calos que fazia quando puxava alfenim com ela. Minha prima ficou por ali, na incerteza: – faço, não faço e eu, apelando.

– Oh mulher, é meu presente! Por favor!
– Então, tá certo! Compre duas rapaduras.
– Oxe! O aniversário é meu e eu ainda tenho que comprar os ingredientes? Mas, como só leva rapadura mesmo, lá fomos nós pro supermercado. E depois de chegar a um acordo sobre qual a melhor pro alfenim ficar perfeito, hora de ir pro sítio, onde eu viveria um dos melhores aniversários da minha vida.

Não bastasse aquela paisagem maravilhosa, verdinha e nós tudo no alpendre da casa, ainda tiveram brincadeiras. Percebi ali que não só tem eu de alvoroçada na família. Nunca ri tanto jogando “Imagem e Ação”. Oh povo doido! Tudo gritando, ao mesmo tempo, pra acertar a resposta e eu ria tanto que não conseguia nem falar. Pra completar, a internet de lá era muito limitada, mas, confesso, não sentimos um pingo de falta. Nem as crianças que brincavam correndo pelos tabuleiros.

Minhas primas (tem com força), as mesmas que cuidaram da decoração dos meus shows em Pombal e do “50 Tons de Romye”, em João Pessoa, fizeram um bolo com cobertura e umas plaquinhas fofas com figuras de câmera de vídeo, microfone, tv e o nome ‘Munganga’. Nem eu me definiria tão bem. Tudo perfeito! E olha que tava apenas começando.

A receita do alfenim

Até que chegou a vez do alfenim e a receita da felicidade que me levou a infância quando morava no sítio. O básico é desmanchar a rapadura na água até virar mel. Continua no fogo até dar o ponto. Lembro que mainha botava o mel, já no ponto, muito quente, numa base de cimento (fogão de lenha, balcão de pia, etc), com água. Com um talher, ia tirando os pedaços e entregando pro povo puxar.

Já a minha prima faz um pouco diferente. Além da rapadura, ela usa limão e deixa o mel na panela nesmo. Dali, vai tirando umas pequenas porções e entregando pra cada um puxar. Agora, tem que ser rápido pro mel não endurecer e nem quebrar. Pra não pregar nos dedos e nem arrancar todas as obturações, a estratégia é passar farinha de trigo, ou araruta, ou goma, nas mãos, antes de começar a puxar.

Foi uma diversão inesquecível! À medida que puxava o alfenim, vinha na lembrança, de cada um, alguma história ligada ao doce com sabor de infância, saudade, alegria, compartilhamento e estar junto.

Fiquei mais feliz ainda por saber que uma diversão singela como aquela chamou tanto atenção. Por mais momentos e emoções como os despertados pelo alfenim: doce, infantil, cheios de humor, rodeado de família e muito amor.

 

Eu vivo do jornalismo, desde quando me formei, no início dos anos 90. Até que em 2014 passei a desempenhar mais uma função: a de humorista. Há quem diga que sou uma jornalista engraçada e eu digo que o humor sempre esteve presente na minha vida. Desde criança. Afinal, sou filha de pais bem munganguentos. Aprendi com eles a rir de nós mesmos. Isso ajuda nos momentos mais sérios da vida. Há 10 anos, resolvi “empacotar” esse humor orgânico e botar “à venda” em forma de standup, textos, crônicas, podcasts e criação de conteúdo para o insta: @romyeschneider.

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