Itagiba, de pobre berço no distrito de Carazinho, hoje cidade do Rio G. do Sul, a 22.01.1922, nunca quis ser Itagiba, vocábulo indígena que significa braço forte, duro como as pedras – nos repassa o jorn. Juremir Machado. Sua mãe, Oniva, até que simpatizava a fonia do termo, que não trazia qualquer ilação com o caudilho uruguaio, Frutuoso Rivera, como se quis imaginar. Preferia-se o de Leonel Rocha, líder maragato e do Partido Conservador, ídolo de seu pai, José Brizola. A tragédia da morte deste, pelas tropas adversárias do cel. Dumoncel, à beira do rio Jacuizinho, o deixou traumatizado pelo resto da vida.
Qual futuro o reservaria?
Oito anos depois começa a sentir aquela crueldade. Nesse murmúrio nascia o menino Leonel, para herói, sem cavalo, da Grande Pátria, Brasil! Provaria, antes, de alguns dissabores, num colégio de Passo Fundo, reclamando de suas péssimas condições. Chegaria a Porto Alegre aos 14 anos, matriculando-se na Escola Técnica de Viamão, pertinho da capital; formou-se em engenharia pela UFRS.
Estava latente aquela expressão de sua madrinha: “Cresce, vai, te mete em política”. Ancorado no getulismo de 1930, oportunamente é eleito Governador do seu Estado, dotando-o de uma magistral atuação na área educacional, além do Rio de Janeiro. Simbolizado pelos CIEPs, sem balas nem fuzis tornara-se um revolucionário perfeito. Sentia, ainda, a dor do assassinato de seu pai, por uma horda reacionária, reavivado no fatídico Dia do Soldado, de 1961.
O presidente da vassoura, Janio Quadros, renunciara, e as notícias que lhe chegavam davam conta de que os ministros militares, Odylio Denys, Grun Moss e Silvio Heck, haviam vetado a posse de João Goulart, seu cunhado e vice, constitucionalmente eleito, alegando suspeição ideológica. Nesse instante, o Itagiba, de um simples fragmento mineral vira rocha de Leonel. É a lenda, real, que a história preserva. Daquela incendiária, quando fala; inerte, imune aos canhões das forças armadas, protegida por um Exército de milhões de brasileiros, mais de 200 emissoras de rádio, sob o apanágio da “Cadeia da Legalidade”. Uma substância que a natureza deveria haver mantido intacta, no seu físico e na mente, para o bem da Nação. Tinha poderio de voz vulcânica, que evitou nossa combalida democracia transformasse em cinzas. Delirante, a massa escuta Brizola, do saguão do Palácio Piratini: “Não pretendemos nos submeter. Que nos esmaguem! Que nos destruam! Que chacinem este Palácio! Chacinado estará o Brasil, contra imposição de uma ditadura”.
Leonel de Moura Brizola, por ocasião de seu centenário de nascimento depositamos, pela sua longa trajetória de herói, essa coroa de memórias. Continue a descansar em paz.
Jornalista