Gasolina no preço que tá, me fez vender o Crossfox. “Tem nada não! Vou andar de uber”, que aumentou absurdamente. “Tem nada não! Vou andar de ônibus”. Anos e anos sem entrar num busão, não me fizeram esquecer o espírito de coletividade e a mistura de aperreio com diversão, em algumas viagens.
Como a de um dia desses, quando peguei um tão lotado, mas tão lotado, que, se pedisse parada no começo da Epitácio, só ia conseguir descer na Lagoa e olhe lá.
Nem no meu tempo de estudante póbi e adulta lisa, tinha visto algo parecido. Mentira!
Quando eu fazia faculdade, um dia, peguei um ônibus tão cheio que não deu pra passar na roleta. Não me aperreei porque era de costume todo mundo descer na mesma parada que eu. Mas, como todo pensar é torto, me lasquei. Naquele dia, só tinha euzinha aqui pra descer no infame daquele ponto.
Resultado: tive que usar dos meus poderes de estudante universitária póbi, que só tinha um passe, e “voei” no mei dos passageiros. “Voando” e gritando: “oh o mei!” “Oh o mei!” E a galera dando aquela força básica:
– Peraí, motorista! Vai descer!
Porque não basta ser póbi. Tem que fazer muita zoada. Enfim, sobrevivi. O ônibus que peguei hoje me lembrou muito aquele dia. Lotado de gente e de muita diversão.
Começando pelo motorista, que, além de dirigir e correr feito a mulesta, era animador de ônibus. E haja animação pra suportar aquela situação.
Tava tão cheio que, uma hora lá, tirei a mão do bregueço que a gente segura pra não cair, só pra ajeitar a máscara e, quando voltei, cadê lugar pra botar a mão? Avi! Só prestando atenção no motorista animador pra esquecer a agonia.
– Oh Célia, você tá aí?
– Tô! O que é que você quer? Bota esse ônibus pra andar, motorista!
– Mulher, tenha calma. Eu quero troco. Tô sem moeda. Você tem aí?
– Oxe! Peça a empresa que é rica. Tudo que eu tenho aqui é um real. Quer?
Era rindo e prestando atenção nos detalhes pro tempo passar logo. Até que, surgiu um canto pra sentar, mas, continuei em pé que nem a “besta de Migué”. É que no meio daquela multidão, não consegui chegar nem perto da cadeira.
Chegou minha parada e, na aflição pra conseguir sair, lá vai eu de novo: “oh o mei!” “Oh o mei!” E, naquele percurso de sardinha enlatada, fui descobrindo que no ônibus tinha um mói de gente conhecida. Um colega de faculdade. Marminhanossa! Será que ele tava ali, desde aquele tempo? E, além dele, quem também tava lá era o meu irmão.
É porque não basta andar de ônibus! Tem que encontrar, lá dentro, amigos e familiares pra que a gente nunca esqueça de que é tudo póbi. “Oh o mei!”