A Prefeitura de João Pessoa realizou uma pesquisa inédita para identificar as principais características dos artesãos que atuam na cidade. As informações foram coletadas no último mês de janeiro, a partir da aplicação de três questionários sobre Oferta Artesanal, Visitantes Turistas e Visitantes Locais. Os resultados obtidos devem orientar e fortalecer políticas públicas e ações cada vez mais assertivas, voltadas aos profissionais que trabalham com economia criativa na Capital.
O levantamento foi uma iniciativa da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedest) de João Pessoa, através da Diretoria de Economia Criativa, e do Sebrae Paraíba, com apoio do Programa do Artesanato Paraibano (PAP), do Sebrae, do Radar e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Por meio da pesquisa, foi possível conhecer a realidade de profissionais como Margarete Porfírio. Ela trabalha há mais de 30 anos com artesanato, em especial, criando peças em crochê. “Produzo tudo sozinha. Geralmente, vendo em feiras e minha renda vem disso. O que ganho se soma à renda do meu marido, e assim damos conta das coisas de casa. Hoje, meu maior desafio é a comercialização e a divulgação das minhas peças”, contou.
O compilado de informações levantadas junto a Margarete e tantos outros artesãos trouxe à luz diversos recortes sobre os profissionais do segmento. Conforme os resultados, a maioria dos produtores que atua na cidade é da própria Capital (57,14%), possui idade média de 55 anos, Ensino Médio completo, aprendeu o ofício através de parentes ou do autodidatismo, e trabalha de seis a oito horas por dia. A maior parte é casada (46,2%) e tem membros da família no artesanato (61,34%). Metade deles fez algum curso de artes e o maior número possui mais de 20 anos de experiência.
Produção – A maioria dos profissionais entrevistados prefere trabalhar com artigos de decoração (43,7%), a exemplo de bonecas, bolsas, vestuários, esculturas e mesas. As matérias-primas mais utilizadas são fios, tecidos e madeira; e os produtos mais vendidos são vestuários, bonecas e chaveiros.
A média de preços do atacado é 14,6% menor do que no varejo, e os principais determinantes da precificação são o tempo de trabalho e a matéria-prima utilizada. A maior parcela respondeu que o artesanato é sua atividade principal. Entre eles, a renda média nos melhores meses é de R$2.150,00. Já nos piores, chega a R$745,00.
Formalização – Uma importante informação constatada pela pesquisa é que 69% dos artesãos não são formalizados, e apenas 5,95% deles, desejam se formalizar. Para a secretária de Desenvolvimento Econômico e Trabalho de João Pessoa, Vaulene Rodrigues, a informação aponta para a necessidade de orientação desses profissionais, quanto à importância de se estabelecer juridicamente.
“A pesquisa foi um parâmetro decisivo para que pudéssemos ter um trabalho segmentado para os artesãos, uma vez que é alto o número de informalidade. Muitos deles não têm clareza dos benefícios que estão associados à formalização. Vamos levar essas noções gerais a eles”, disse.
Consumidores – A pesquisa também traçou características sobre os consumidores finais do artesanato pessoense: 90% deles são brasileiros. Entre os clientes residentes em João Pessoa, 11,9% moram no bairro Cabo Branco, e 10,9%, nos Bancários. A maioria (92%) adquire peças em feiras, e as produções em crochê, cerâmica e madeira são as prediletas. Para 34,6% deles, a beleza é a principal razão para compra de produtos, enquanto o fator preço foi o menos determinante – apenas 7,9% dos entrevistados.
Já entre os turistas, a maior clientela é de São Paulo e de outras cidades da Paraíba. Castanhas, enxovais e arranjos são exemplos de produtos mais apreciados por eles. Assim como os consumidores locais, a beleza dos produtos é considerado o principal fator determinante de compra. Em contraponto, o preço performou melhor entre os turistas, representando 9,43% das decisões.
Capacitações – Dos artesãos entrevistados, 76% destacaram o desejo de participar de algum curso de capacitação. Eles sentem necessidade de criar produtos de sucesso e de aprender a divulgar o trabalho em redes sociais, sobretudo, o Instagram. Essas constatações já estão motivando ações promovidas pela Sedest, por meio dos programas Eu Posso Criar e Eu Posso Aprender.
A partir desta terça-feira (10), terá início um ciclo gratuito de capacitações exclusivo para profissionais do artesanato. As atividades acontecerão no Shopping Sebrae, no bairro dos Estados. Neste primeiro dia, será ministrada a oficina “Mídias sociais: como vender na internet”. No próximo dia 24, o tema será Fotografia, enquanto no dia 31, “Identidade Visual”. Para julho, já estão programadas capacitações em “Oratória”, “Posicionamento de Marca” e “Precificação”.
Direcionamentos – Segundo Eduardo Barroso, coordenador de Projetos Especiais da Sedest, o levantamento possibilitou a consolidação de dados atuais e confiáveis sobre o artesanato na capital. “Essas informações serão o insumo fundamental para trabalharmos, inclusive, no sentido de solucionar problemas do setor, trazendo respostas às demandas constatadas”, explicou.
Entre essas demandas, além das capacitações, está a necessidade de melhoramento de produtos. “Já realizamos algumas oficinas criativas e estamos programando outras, objetivando o desenvolvimento de coleções temáticas, baseadas na iconografia e na cultura pessoense”, complementou. A Sedest também já estuda a viabilidade de realização de uma feira permanente, no Centro da cidade, que é outra proposta colhida no levantamento.