Desde que foi anunciada a hospitalização de Pelé e o fim do seu tratamento contra um câncer, o assunto tem sido recorrente na imprensa e nas redes sociais. E nas últimas horas, com o agravamento do quadro de saúde do “rei do futebol”, surge uma certa confusão sobre o que seriam cuidados paliativos exclusivos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o conceito de cuidados paliativos é a assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que tem o objetivo de melhorar a qualidade de vida não apenas dos pacientes, mas também seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento.
Quando se fala que alguém está exclusivamente em cuidados paliativos, como no caso de Pelé, onde a quimioterapia não oferece mais resultados, quer dizer que agora o foco são as medidas de conforto para o paciente e não mais a procura da cura da doença. Por conta disso, muitas vezes, as pessoas têm a ideia errada de que cuidados paliativos são uma sentença de morte e acabam entrando no chamado luto antecipatório.
“O luto antecipatório pode ocorrer antes da perda de fato. É muito comum acontecer em cuidados paliativos. Há um misto de sensações neste momento: de um lado a negação e no outro a aceitação da morte, o que pode gerar culpa e aí a vontade de fazer algo mais, intervir no tratamento, que já não tem mais resultado,” explica a psicóloga especialista em luto do Morada da Paz, Simône Lira.
A psicóloga afirma ainda que os cuidados paliativos focam na promoção da qualidade de vida aos dias do paciente, independentemente da quantidade de dias, meses ou anos que ele ainda pode ter. Dessa forma, com a ajuda de uma equipe multidisciplinar, que inclui um psicólogo, é possível que o processo de luto seja acompanhado em sua vivência e expressão.
Apesar de tudo, o luto antecipatório também pode ter um papel importante nesse momento: “Eu sempre digo que o luto é individual e cada um sente de maneira distinta. Mas com ajuda profissional, o luto antecipado pode auxiliar em todo processo de adoecimento, seja nos cuidados paliativos ou não. Esse luto permite que questões importantes possam ser elaboradas, pendências emocionais resolvidas e desejos sejam realizados. O foco acima de tudo é a vida do paciente, respeitando sua dignidade e autonomia dentro do processo”, finaliza ela.
Iara Ieno/Pauta Comunicação