Antes de começar essa história é preciso explicar o que danado é piaba. É um peixinho bem pixototinho, de água doce, neste caso, de açude, que fica só na espreita pra atacar os desavisados. Quando chega alguém pra lavar roupa, tomar banho ou lavar louça, as bichas aparecem, só Deus sabe de onde, de ruma, de mói, num verdadeiro “exército” açudático.
Garanto que toda criança de sítio tem uma munganga pra contar envolvendo piaba. No meu caso, toda vez que mainha ia lavar louça, eu ia junto. Só que não era pra ajudar. Não vou mentir. Era pra brincar de pegar piaba. Botava os restos de comida numa vasilha pra atrair os peixinhos e quando eles caiam na “armadilha”, eu os botava numa peneira. Eita gota que era piaba com força. Mas, logo depois de saciar minha curiosidade infantil, soltava os peixinhos dentro d´água.
Mas, a característica deles que mais me chamava a atenção era outra. Eles mordem. Onde tem um sinal, uma pereba, um bico de peito à mostra, elas saem estraçalhando tudo.
E é aí onde começa essa história.
Imagine um mói, uma ruma desses peixinhos dentro de um açude? Mais precisamente o açude do Arruda, no sítio do meu tio, em Paulista, vizinho a Pombal. Cenário perfeito para viver uma munganga com os meus filhos Ian (20) e Caê (29).
Em fevereiro, de 2022, fui pro sítio com eles. Teve um momento em que a gente “fugiu” do resto da família e foi pro açude. Logo eles entraram e eu fiquei na beira, justamente, por medo das piabas me morderem.
– Vem, mainha!
– Vou nada. Tem piaba.
– Tem não. Tinha quando você era criança. Hoje não tem mais não! Venha! Venha!
Me rendi a empolgação deles e resolvi entrar. Ou melhor, tentei entrar. Porque foi só o tempo de botar a ponta dos dedos dentro d´água que as bichas já foram me “atacando”. Valaminhanossasenhora! Parecia que eu tava dentro do filme “Piranha”.
Saí correndo que nem o vento me pegava. A impressão que eu tinha era que as piabas iam sair da água e vinham atrás de mim. Acho que o medo aguça a nossa criatividade, né?
– Vocês disseram que não tinha piaba!
– Tá mainha! Você acha que a gente tá pinotando aqui dentro por que? – ficar pulando é a única forma delas deixarem a pessoa em paz – Desde a hora que a gente entrou na água que elas querem morder. A gente só te chamou pra você matar a saudade da sua infância.
– Sei! A conversinha é essa!
Passado o susto, observei que aquele foi um dos melhores momentos com meus filhos já adultos. Embora assustador, também foi leve, engraçado e junto. Percebi também que é hereditário. A minha relação com mainha sempre foi assim. Leve, cheia de confiança, respeito e muita munganga.
Não é à toa que ela foi e ainda é a grande inspiração do meu projeto de humor. Assim como os meus filhos seguem com minhas mungangas e sucessivamente.
E, por falar nisso, vou ser avó e pra mim tou vendo Caê (o futuro papai), aprontando munganga com ele que, certamente, vai levar adiante.
Viva as mães! Viva as piabas e todas as outras coisas que nos inspiram a fazer mungangas!
Massa esse relato, vivi todos os episódios da infância no açude do Arruda
Parabéns, Rommy, vovó mungangueira !!!!
“O bom da vida é ser feliz”, temos de aprender a ver graça e beleza nas coisas simples.
Gratidão por me fazer rir sempre Rommye.
Amor sem muganga… Deve ser esquisito. Eu não concebo isto. Filhamãevovóamiga muitas oportunidades de fazer travessuras, bem muganguetas e cheias e cheias de amor na sua vida ❤️