De acordo com a gerente Operacional de Atenção Psicossocial, da SES, Iaciara Mendes, a marcha volta a acontecer após dois anos, por conta da pandemia, e num momento de aceno nacional para a retomada dos investimentos na saúde mental e fortalecimento dos princípios da reforma psiquiátrica, da luta antimanicomial e da política de redução de danos.
“Hoje é o momento de gritar o que a gente quer e comemorar com o retorno às ruas. Estamos muitos felizes e gratos aos municípios que participaram, com o objetivo de praticar a liberdade, o acolhimento e a cidadania, em prol de uma sociedade sem manicômios, uma responsabilidade do estado, bem como, de todos os que fazem a área da saúde mental”, disse Iaciara.
O “grito” de Emanuele Melo é por meio da música. Ela é usuária do Caps AD III Jovem Cidadão, da SES, localizado em Tambauzinho, João Pessoa. A marcha aconteceu na véspera do seu aniversário de 19 anos. Comemorou as duas datas com a composição de um rap que traduz um pouco da dor de quem passa por sofrimento mental. “É três da madrugada, ainda acordada, o dia arrasou a minha mente. Fico me perguntando o que fiz de errado porque eu sou assim tão diferente. Geral me humilhando e tudo que eu faço é motivo de risada e agressão e tudo que eu preciso agora é de remédio pra curar minha depressão”.
O educador físico Jefferson Thalles trabalha há três anos e meio no mesmo Caps onde Emmanuele é atendida. É um entusiasta do tema saúde mental. “Esta marcha mostra para a população que é possível cuidar de pessoas com sofrimento mental em liberdade e ainda dar direito a elas de utilizarem os espaços das cidades, sem restrições”, pontuou.
Cada Caps levou seus cartazes, produzidos pelos usuários, com frases dentro do tema da Semana Antimanicomial desse ano: “Menos drogas, mais Caps”; “Liberdade é o melhor cuidado”; “Menos manicômios”; “Mais Caps, dignidade, liberdade e amor”, entre outros. Além de cartazes e composição de raps, alguns usuários encenaram situações que abominam. Os usuários do Caps David Capistrano, da capital, Eduardo Pereira e Felipe Lima, por exemplo, representaram um usuário amarrado.
“A gente quer mostrar para acabar com os manicômios. No lugar de prender, queremos mais Caps. Não é com prisão, que se resolve. É com amor, sem violência e um tratamento digno”, disse o usuário Felipe.