“O corpo em bom estado desenvolve uma mente saudável”. É o que ressalta o educador físico Alcidemar Lisboa de Carvalho Júnior, professor na Escola Municipal Afonso Pereira, localizada em Mangabeira VIII. A citação é um lembrete sobre a importância da atividade física no desenvolvimento de crianças, em um período dominado cada vez mais pelo uso excessivo de telas.
O profissional explica que é por meio das brincadeiras e do esporte que as crianças desenvolvem o lado cognitivo e aperfeiçoam a face socioemocional. “Estamos falando do esporte praticado de forma saudável, sem a hipercompetitividade, buscando o desafio de se superar, jogar ou competir com o outro. É nesse momento que são desenvolvidos mecanismos cognitivos de superação, de união, de respeito ao próximo”, esclarece Alcidemar Lisboa.
Com o isolamento social imposto pela Covid-19, as crianças se habituaram a passar mais tempo na frente de televisão, computadores e videogames. E isso gerou grandes prejuízos. O educador físico Aragonez Silva de Carvalho afirma que têm alunos com dificuldade psicomotora e social em virtude dessa situação. “São alunos que não correm e nem saltam sem cair. Uma simples brincadeira de amarelinha é muito difícil para elas”, revela o profissional, que é professor no Centro Escolar Municipal de Atividades Pedagógicas Integradoras Arthur da Costa Freire (Cemapi), localizado no bairro de Mangabeira.
Os profissionais destacam ainda que o uso excessivo de telas contribui para o sedentarismo. São crianças que vão crescer com cansaço constante, problemas para dormir, baixa concentração na escola, além de doenças respiratórias e cardiovasculares. “Lembrando que o prejuízo é sempre para o futuro. As ações de agora, ou seja, o comportamento ocioso e sedentário só apresentará reflexo daqui a alguns anos”, ressalta Alcidemar Lisboa.
“Cada vez mais vemos crianças e adolescentes com pressão alta, com ansiedade, com doenças que eram acometidas na fase média da vida adulta ou em pessoas já idosas. E agora essas doenças aparecem prematuramente nos jovens”, alerta.
Benefícios da atividade física – Os educadores que atuam na rede municipal de ensino de João Pessoa procuram despertar nas crianças a importância da atividade física desde cedo. Isso é feito respeitando a vontade do aluno, mas procurando incentivá-lo a ir em busca dos desafios e prazeres que o esporte e as brincadeiras proporcionam.
“A aula de educação física é voltada para a movimentação do corpo, mas desenvolve também o lado criativo e social do aluno. E com os kits que recebemos da Prefeitura de João Pessoa, essa prática fica ainda mais prazerosa, porque os alunos dispõem de bolas, bambolês, petecas, cones, entre outros itens. Tudo isso incentiva e desperta o interesse nas crianças”, comenta o educador físico Ricardo Luiz Bezerra dos Santos, professor na Escola Municipal Edme Tavares de Albuquerque, no Bairro das Indústrias.
Os educadores físicos Elton Oliveira e Tiago Poliota, professores na Escola Municipal Oscar de Castro, em Cruz das Armas, explicam que a prática esportiva no ensino fundamental tem o objetivo de desenvolver a coordenação motora. “As regras de cada esporte ficam em segundo plano. O que queremos é que as crianças se movimentem, tenham controle sobre o corpo no pular, girar, agachar, que eles conduzam a bola dentro do objetivo esperado. Para os adultos, isso pode parecer simples, mas no universo da criança, isso é desenvolvido de forma gradativa”, comenta Tiago Poliota.
Kleber Lucas e Heloísa Batista, ambos de 10 anos e alunos do 5º ano do ensino fundamental da Escola Municipal Oscar de Castro, são bastante ativos na escola e em casa. Os dois gostam de jogar futebol e brincar de esconde-esconde. “De noite eu brinco de esconde-esconde com meus amigos na rua e no sábado eu vou para o futsal. Minha mãe só deixa eu ficar no celular por uma hora todos os dias. Meu jogo favorito é o Duolingo. Eu estou aprendendo inglês com ele”, revela Heloísa Batista.
Os profissionais da rede municipal têm ainda a preocupação de oferecer atividades que ajudem na construção do aluno como indivíduo integrante de uma sociedade. “Trabalhamos a superação, o desenvolvimento cognitivo, o lado crítico, seja por meio do lazer ou do competir. Tudo isso contribui para o crescimento saudável desse indivíduo”, comenta Alcidemar Lisboa.
Como reduzir a ociosidade em casa – Aragonez Silva de Carvalho lembra que o exemplo é a melhor forma de ensinar a criança a não ser ociosa em casa. “Não adianta cobrar que as crianças saiam das telas se nós adultos ficamos o tempo todo na frente do celular”, ressalta.
Então, além do exemplo, o passo seguinte é reduzir o tempo que as crianças passam na frente das telas. Os profissionais aconselham a definir horários para a televisão, o tablet e o videogame, pois não adianta privar a criança de um lazer que já faz parte do cotidiano dela. O caminho mais fácil é o acordo.
Pedir a cooperação da criança nas atividades da casa é outra forma de minimizar a ociosidade delas. “Estamos falando de responsabilidades que condizem com a idade e a maturidade da criança, como recolher o lixo, dar banho no cachorro, arrumar a cama. Essa orientação pode ser feita pelos pais, mas sempre respeitando a criança como indivíduo e, principalmente, sem atrapalhar os estudos delas”, orienta Alcidemar Lisboa.
Por fim, os profissionais recomendam aos pais a dedicar, pelo menos, 30 minutos do dia a brincar e relaxar ao lado dos filhos. Alcidemar Lisboa ressalta que entende ser difícil para a maioria dos pais e mães empenhar esse tempo de lazer no dia a dia, pois muitos trabalham o dia todo e chegam cansados em casa. “Mas qualquer tempo que seja, desde que aplicado com qualidade e atenção, já vai fazer uma diferença significativa na vida dos filhos. Então, resgatem velhas brincadeiras e tornem a casa um espaço divertido e contagiante”, aconselha.
Foto: Samuel Lima