Presidente da Associação Portugal Brasil quer estreitar laços com a Paraíba, inclusive na área literária

Apaixonado pela Língua Portuguesa e pela rica história que une Portugal e Brasil, o português José Manuel Diogo, que participa em João Pessoa, nesta sexta-feira (9), da ‘Conferência Camões 500 anos: uma nova cidadania para a língua’, conta como surgiu a aproximação com a Paraíba que o fez estreitar laços com o estado e sugerir a criação de um evento literário internacional, a Feira Literária Internacional da Paraíba. Presidente da Associação Portugal Brasil 200 (APBRA), José Manuel chega esta semana para a Conferência, uma realização do Governo da Paraíba, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e da Empresa Paraibana de Comunicação (EPC), que acontecerá às 8h30, na Fundação Casa de José Américo, na Avenida Cabo Branco.

José Manuel diz que sua aproximação com a Paraíba foi facilitada “por encontros com intelectuais e líderes locais que compartilham a visão de fortalecer os laços culturais e educacionais”. O encontro com o governador João Azevêdo se deu na Feira Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), em abril de 2023, e a entrevista dele concedida à coluna de José Manuel “Gente de Lá e de Cá” foram, segundo Manuel, “momentos cruciais para entender a visão moderna e cosmopolita do gestor. Ele introduziu uma narrativa de futuro para a Paraíba e sua capital, João Pessoa, destacando a importância da cultura e da literatura como veículos essenciais para o estabelecimento de relações em uma era de conectividade global”.

O presidente da APBRA afirma que a Paraíba sempre o atraiu pelo profundo reconhecimento que tem do potencial histórico e cultural da região. “A Paraíba, com sua rica tradição literária e cultural, sempre me atraiu como um espaço fértil para a promoção de iniciativas que valorizam a Língua Portuguesa. Paraíba é berço de alguns dos mais importantes nomes da literatura brasileira. José Américo de Almeida, autor do seminal “A Bagaceira”, e o icônico poeta Augusto dos Anjos, cuja obra “Eu” é um marco da poesia nacional, são exemplos da profunda e variada tradição literária. Além disso, a ligação de Ariano Suassuna com a Paraíba e sua contribuição com o Movimento Armorial reforçam o valor cultural da região”, evidencia João Manuel.

Relações com o Brasil – O contato com o Governo foi fundamental para estreitar relações que já são mantidas com o Brasil e consoldidas com ações como o projeto “200 anos, 200 livros”, celebração do bicentenário da independência que teve tanto sucesso que foi acolhido pelo Senado Federal e fez parte das suas comemorações, bem como das comemorações importantes com que Portugal prestigiou o Brasil em 2022. O projeto também foi apoiado através do Instituto Camões e do embaixador Luiz Faro Ramos, então Presidente do Instituto e hoje embaixador em Portugal.

“A fundação da Associação Portugal Brasil 200 anos (APBRA) foi um passo natural nessa trajetória, e hoje é uma associação superativa com programação quase diária atuando em Portugal e no Brasil, com parcerias importantes, e busca promover um intercâmbio cultural e acadêmico que beneficie ambas as nações”, conta José Manuel.

O português revela ainda que seu interesse inicial pelo Brasil surgiu da própria família: “meu avô foi um imigrante no Pará no tempo da seringa, mas na nossa família essa história de paixão pelo Brasil foi sempre um pouco censurada, foi preciso eu ficar adulto para poder interessar pela verdadeira história do António Fernandes”.

Cidadania para a Língua – Na Conferência que será realizada sexta-feira (9), José Manuel Diogo evidencia que pretende abordar a ideia de cidadania linguística como um conceito que transcende fronteiras geográficas e políticas. “Para mim, cidadania para a Língua significa reconhecer e valorizar a língua portuguesa como um patrimônio comum que deve ser protegido e promovido globalmente. Discutiremos a importância de uma nova abordagem que envolve a participação ativa de todos os falantes de português na preservação e expansão da nossa língua, promovendo assim uma identidade cultural compartilhada”.

Ele diz ainda que “o conceito de finisterra é particularmente interessante e se aplica em espelho à Paraíba e João Pessoa. O meridiano de João Pessoa, e eu penso que podia se batizar assim como o meridiano de Greenwich, é o começo da terra americana. É, portanto, o símbolo de futuro em um mundo globalizado. O meridiano João Pessoa deveria estar para a ‘literatura’ em língua como o meridiano de Greenwich está para o ‘fuso horário’”. Por isso, de acordo com ele, o festival literário idealizado para dezembro deste ano representa um “balão de ensaio, com a ambição de se tornar o primeiro festival literário internacional da América em 2025, visto de uma perspectiva europeia e mundial, sendo o meridiano de João Pessoa aquele que marca o início da reflexão sobre o futuro nesses tempos de transformação global”.

José Manuel explica que a proposta da criação da Feira Literária Internacional da Paraíba nasce da percepção da necessidade de ampliar os espaços de promoção e acesso à literatura. “As festas e feiras literárias são fundamentais para democratizar o direito à literatura, tornando-a acessível a um público mais amplo. Nosso objetivo é transformar a Paraíba em um polo de encontro de escritores, leitores, editores e acadêmicos, fomentando o diálogo cultural e literário e promovendo a literatura como um direito universal”.

Ele diz que está confiante na construção de uma parceria sólida que beneficie tanto Portugal quanto o Brasil, especialmente no contexto cultural e educacional. “Quero deixar, desde já, a minha simpatia e reconhecimento pela visão dos decisores desse grande estado brasileiro, de olhar para o problema mais relevante da definição das gerações futuras não pela produção de entretenimento, mas sim pela produção e gestão do conhecimento”.

Conferência – No evento do dia 9, José Manuel Diogo vai integrar a mesa da primeira temática, “Camões 500 anos: uma nova cidadania para a Língua”.  Também estarão na mesa Janile Pequeno Soares, doutora em Letras pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e professora do Uniesp, e Marcelo Vieira de Nóbrega, doutor em Linguística e professor da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), com mediação de William Costa, diretor de mídia impressa da EPC.

Ele também participará da segunda discussão da manhã, que será “A importância das feiras e festas literárias para a promoção do direito à literatura”. O presidente da APBRA vai compartilhar suas experiências com a Feira do Livro de Coimbra, a Festival Literário Internacional de Óbidos (FOLIO), o Festival Coimbra Cidade de Camões, entre outros. A mesa contará com a participação do secretário de Estado da Cultura, Pedro Santos; do coordenador da Feira Literária de Campina Grande (FLIC), Stéllio Mendes; e da coordenadora da Festa Literária Integrada da Paraíba, Jacklaine Almeida, com mediação da escritora fundadora da Editora Triluna, Aline Cardoso.

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