Casca de Pinha

Nas salas de aulas nos ensinam disciplinas como história, geografia, ciências, biologia, filosofia e tantas outras. No entanto, existem temas que só a universidade da vida é capaz de nos cientificar, principalmente quando estamos a ouvir a voz do povo, lá no interior, numa feira-livre, onde a conversa anda solta, ou seja, como diz Zé Marcolino: “sem protocolo”.

Estava no sertão da Paraíba, ouvindo a conversa de três sertanejos, quando um deles, de nome Vicente, exclamou: “Nesse mundão tem muita gente sem futuro, que não vale nada, ruim que só terra quente. Tem gente que é tão ingrato, que por mais que você faça por ele, mais ele diz que você nada foi feito”.

Nessa hora, Balbino, outro interlocutor, retrucou: “Compadre, você tem razão. E o pior de tudo é quando chega o tempo da política, o cabra fica cheio de gás, pois tem voto e se acha no direito de explorar todo mundo”. O terceiro personagem, Batista, interviu com um sorriso curto, dizendo: “Tem pessoas que pedem ao candidato “A”, ao “B” e ao “C”, prometendo a todos eles o voto, e finalmente ninguém sabe em quem ele vota. É um verdadeiro balancinha”.

Vicente retoma a palavra, e, irritado, pontua: “É, um cabra desse é um verdadeiro casca de pinha”. Batista, espantado, indaga: “Casca de pinha?” De pronto, Vicente responde: “Você já ouviu dizer que casca de pinha presta para alguma coisa? Você pode tocar fogo nela que não vai subir labareda alguma. Ela fica preta, preta mesmo, e não se vê qualquer chama. Pode colocar casca de pinha na lavagem de porco. Verá que o bicho vai comer de tudo, rejeitando, contudo, a casca de pinha. Ora, Batista, um negócio que não presta nem para lavagem de porco, para que serve, então? É como um cabra ruim: de nada serve”.

Balbino escorou a mão no rosto e emendou, dizendo: “Vicente, você não conhece Bento de Tertúlia. Pois bem. Uns dois anos atrás, ele danou-se para construir uma casa lá no sítio dele. O que eu pude fazer por ele, eu fiz. Ajudei com tijolo, cimento, areia, piso, caibro, porém, quando veio a eleição, não é que o danado conseguiu umas telhas com meu adversário e terminou votando nele. O Pior é que, passadas as eleições, eu já derrotado, o danado teve a coragem de publicamente me pedir um dinheiro para pintar a casa. Vicente, o Bento é um autêntico casca de pinha”.

Batista sorriu novamente e exclamou: “Balbino, além do eleitor casca de pinha, há também políticos feitos dessa mesma matéria. Eles viciam os eleitores e depois fica essa bagunça toda”.

É vivendo e aprendendo. Diante daquela conversação, percebi que há eleitores e políticos fichas sujas, mas é preciso separar o joio do trigo. É votando certo que poderemos desfrutar de dias melhores.

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Onaldo Rocha de Queiroga é natural de Pombal, formou-se em Direito em 1987, ocupando diversos cargos na área, em várias cidades paraibanas. Atualmente é juiz da 5ª Vara Cível de João Pessoa e ocupa o cargo de juiz auxiliar da presidência do Tribunal de Justiça da Paraíba. Ingressou na literatura com o livro Esquinas da Vida e prosseguiu com Baião em Crônicas, Reflexões, Por Amor ao Forró, Crônicas de um Viajante, Meditações, Monólogos do meu Tempo; Efeitos, Homíneos e Naturais.

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