O mundo acabou

Esses dias, vi nas redes sociais uma coisa que eu já vinha desconfiando. A postagem dizia: “Todo dia, quando acordo, vejo que o mundo acabou”. Eita mulesta! E agora? Será que é verdade? Se for, ainda tô por aqui. Eu acho. Só tenho certeza de uma coisa: a pandemia tá bulindo com os meus nervos. Se, antes, eu andava de mãos dadas com a ansiedade, agora, ela vive encangada comigo.

Na semana passada mesmo, encafifei que tava diabética e fiz um mói de exame. Fiz na sexta e o resultado só saía na segunda. Já dá pra imaginar como foi o meu final de semana, né?

Não comia nada que virasse açúcar dentro de mim. Nem doce, nem massa, nem nada. Passei uma fome da mulesta. E, sem comer, a pessoa só pensa besteira. “Ah meu Deus, esse é o meu último final de semana sem saber que tô diabética. A partir de segunda, tudo vai mudar na minha vida”.

Esse drama todinho de novela mexicana e, quando o resultado saiu, eu não queria ver. Tensa! Com medo! Até que criei coragem e resolvi encarar minha “nova vida”. Seja o que Deus quiser. E lá estava: não tenho diabetes. Que maravilha! Que felicidade! Que alegria! A sensação era como se eu tivesse acertado na mega, mesmo sem nunca ter jogado.

Mas…como diz mainha, “quem procura doença, acha”. Fui cutucar direito os exames, e achei: o colesterol lá nas alturas, feito o preço do gás de cozinha. Meti o pé na carreira pra comprar os bregueço que a nutricionista tinha passado, há mais de ano e eu nem tchuiu. Mas, como quem tem fiofó tem medo… comprei chia, linhaça, aveia e sei lá mais o quê. Pro efeito ser mais ligeiro, boto em tudo que é de comida. Só ainda não experimentei no café e na água porque acho que não deve combinar muito. Agora me diga como é que uma sertaneja vai viver sem comer a graxa da carne, buchada, tripa assada, rabada? Isso sim é o fim do mundo pra mim.
Ainda bem que conto com o apoio da minha sábia mãe pra tudo: “essa menina tem umas frescura com comida, viu. Só come essas coisas véa esquisita. Vôte!”.

Mas, não escutei mainha e continuei procurando. Fui a uma ginecologista que passou mais uma ruma de exame. Um deles bate o recorde do incômodo. Só pode ter sido inventado por um homem que não tem peito pra ser esmagaiado. Falo da mamografia.
Eu sei que tô com 52 anos e é importante fazer como forma de prevenção. Sei de tudo isso, mas, confesso que é só por isso mermo que faço porque o negócio é chato. Como é que a pessoa sai de casa, pra fazer aquilo? “Vou ali espragatar os peitos e já volto!” Senhoorrr, e espreme de cima pra baixo e, depois, dos lados. Só sei que eu tava tão nervosa (postei um vídeo sobre isso no meu instagram @_romye), que a enfermeira falou e só entendi a palavra “higienizado”. Pensei logo que ela tivesse falando dos meus peitos.
Eu: oxe, eu acho que meus peitos tão higienizados sim. Tomei banho e vim direto pra cá.
Enfermeira: Né isso não. Tô dizendo que a máquina foi higienizada.
Eu: Ah tá! Bom basta! Um problema de cada vez, né.
E, por falar nisso, eu e a minha ansiedade tamo querendo saber: o mundo já se acabou mesmo, foi? Parece que não. Ainda. Por enquanto, prefiro concordar com Chico César e Zeca Baleiro, na música RESPIRA:
Não se entregue não
Ainda tem chão, RESPIRA
Sei que falta ar
Mas de algum lugar, a gente tira
Não há mal que sempre dure…
RESPIRA, RESPIRA

Nada terminou
Nunca termina… RESPIRA!

Eu vivo do jornalismo, desde quando me formei, no início dos anos 90. Até que em 2014 passei a desempenhar mais uma função: a de humorista. Há quem diga que sou uma jornalista engraçada e eu digo que o humor sempre esteve presente na minha vida. Desde criança. Afinal, sou filha de pais bem munganguentos. Aprendi com eles a rir de nós mesmos. Isso ajuda nos momentos mais sérios da vida. Há 10 anos, resolvi “empacotar” esse humor orgânico e botar “à venda” em forma de standup, textos, crônicas, podcasts e criação de conteúdo para o insta: @romyeschneider.

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