Legalidade, 60 anos depois, pode ser rompida, pela falta de harmonia entre os três Poderes, em virtude de continuados ataques por parte do Chefe do Executivo. Nesse dia, 25 de agosto, há seis décadas, o Pres. Janio Quadros renunciava, provocando uma crise político-institucional no País, não pela extremada atitude tomada e sim pela indisciplina dos ministros militares da época, ao recusarem o cumprimento constitucional, vedando a posse de João Goulart, Vice-Presidente da República.
Clima de golpe ainda paira no ar, apesar de os comandos das Forças Armadas, em cerimônia do último Dia do Soldado, reafirmarem compromisso com a democracia. Também não acredito tal ignomínia, por uma razão bastante simples, a falta de ambiente geopolítico no nosso Continente, pois os norte-americanos, dada a conduta equilibrada de seu mandatário maior, Joe Biden, não estão dispostos a aventuras desse jaez. Não estamos nos tempos do IBAD, nem dos bastidores civis e fardados, pela farta operacionalidade financeira e ideológica de que dispunham, pois a tensão, hoje, é interna, talvez uma questão de retórica, construída pelo Palácio do Planalto.
O Supremo, principal vilão dessa história, constantemente ameaçado de bombardeio por facções antidemocráticas, não deixa de colocar a Nação em suspense. Já não mais existe a altivez e voz de um Leonel Brizola, Governador gaúcho que naquele ano de 1961 liderou a resistência democrática, contra a tresloucada ordem do ministro Odilio Denys de bombardear o Palácio Piratini. Nesses casos não basta o arrepio da lei. Ora, nenhum membro do STF tem a verve e coragem de Brizola, que ante semelhantes e criminosos anúncios, de metralhadora à mão, do saguão do Palácio do Governo discursa para milhões de brasileiros, por meio da Cadeia da Legalidade, que se formara, nada menos que duzentas emissoras de rádio, perante 150 mil pessoas ao seu derredor. Foi no dia 28/08: “Venham, não me retirarei. Poderei ser esmagado, destruído, ser morto, não importa. A morte é melhor de que a vida sem honra, dignidade, sem glória. Aqui, ficaremos até o fim. Que decolem os jatos! Que atirem com os armamentos comprados à custa da fome do povo. Abraço, meu povo querido. Pode ser este, realmente, o nosso adeus”!
O III Exército e a Base Aérea de Canoas preferiram o respeito à ordem constitucional. Vibram o Brasil e a democracia. Jornais dão destaque. Personalidades políticas, de várias bandeiras partidárias, população nas ruas, das capitais e grandes cidades, entram em delírio. Jango assume. A elite golpista, desesperada, espera por 1964.
Tínhamos inimigos externos explícitos, agora eles podem estar no nosso próprio território. Exige-se muita vigilância para enfrentá-los, e a Campanha da Legalidade nos proporciona esta magna e histórica lição.
Jornalista