As eleições presidenciais de 1822, a Covid-19, a desconstrução nacional e a inépcia administrativa do governo federal têm roubado a cena desses dias, que antecedem ao bi-centenário da Independência do Brasil. A não ser esporádicos comentários, na imprensa ou de alguma ação cultural, o esquecimento, alusivo à magna efeméride, é total. Inexistem mobilizações de entidades ligadas às pesquisas históricas, nem pronunciamentos parlamentares. Nos quartéis, as Ordens do Dia não passam de rituais sombrios, dessa forma o escolhido lema do presidente Jair Bolsonaro, “Pátria amada, Brasil”, é pura retórica, pois seu amor ao País não reflete os anseios do povo.
Não obstante tal descaso pensemos um pouco acerca de alguns personagens, testemunhos oculares daquele ato do 7 de Setembro de 1822: Paulo Emílio Bregaro, Luís Saldanha da Gama, major Antonio Ramos Cordeiro, Francisco Gomes da Silva (o Chalaça), João Carlota e João Carvalho, major Francisco de Castro Canto e Mello, além da Guarda de Honra, formada em Pindamonhangaba e outras personalidades. Sobre um deles, que não está mencionado, padre Belchior Pinheiro de Oliveira, tentarei fazer alguns registros, traduzindo sua importante participação naquele evento.
Tem, exatamente, a assinatura do pai, casado que era com d. Floriana Rosa de Oliveira, havendo nascido no Arraial de Tijuco, Diamantina, hoje, celeiro de bandeirantes. Ordenado sacerdote, tornando-se pároco de várias paróquias, estacionando-se na freguesia de Nª Srª do Pilar, município mineiro de Pitangui, onde se tornou membro de sua Câmara Municipal, chegando a ocupar uma das cadeiras nas Cortes Constituintes, em Lisboa. Nutrindo forte amizade com o Príncipe Regente, D. Pedro, este o escolheu como Conselheiro, que o acompanhava nas suas andanças.
Na jornada a S. Paulo, o futuro Imperador, surpreendido com a convocação de retorná-lo à Pátria de origem, perguntando ao Belchior o que fazer, disse-lhe este: “Se V. A. não se faz Rei do Brasil, será prisioneiro das Cortes. Não há outro caminho, senão a independência e a separação”! Com 81 anos de idade faleceu e encontra-se sepultado abaixo da escadaria que dá acesso à Igreja Matriz de Pitangui, local historicamente preservado, bem como a casa onde residia.
A cidade de Pitangui, conhecida por “Terra Mãe”, pois dela descendem dezenas de municípios da região, no centro-oeste, possui uma história privilegiada. Tida como uma das primeiras vilas na época da exploração aurífera. Sua construção se deve aos paulistas, fugidios dos emboabas.
Jornalista