Regido por D. Pedro, desde abril de 1821, com o retorno de seu pai, D. João VI, a Lisboa, consigo levando, praticamente, todo numerário de que dispúnhamos, o Brasil passou por um ciclo econômico reflacionário, além de politicamente agitado. As Cortes fixaram 1822 para reduzi-lo à condição de Colônia, em toda sua plenitude. Até setembro daqueles idos um período de muitas dificuldades financeiras, com o comércio praticamente inativo, pois o poder de compra da população altamente corroído, a máquina administrativa com seu funcionamento comprometido, vez que se esgotaram os recursos do tesouro. Algumas medidas de contenção da crise foram a de baixar as taxas e as alíquotas de impostos.
Nesse cenário de incertezas, o Rio de Janeiro, parecendo-se com os tempos de Covid, estava sob ameaças de invasão, pelas forças lusas, comandadas por Jorge de Avilez Zuzarte, que vieram buscar o Príncipe Regente. Reacendem-se a maçonaria; a imprensa, liderada pelo jornalista agitador Joaquim Gonçalves Ledo, através de seu “Revérbero Constitucional Fluminense”, e a “Malagueta”, de Augusto May, enquanto José Joaquim Rocha controla o “Club da Resistência”. O impasse repercute em lugares longínquos da Colônia.
Então, a única opção: Ficar ou ficar! “Não há uma segunda alternativa”, escreve o “Sentinela da Pátria”, publicado no meu livro “Independência! No Grito e a Raça”, p. 507. Se retornar a Lisboa, o Brasil se tornará independente. Manifesto, por iniciativa de organizações civis, rapidamente percorreu ruas cariocas e de São Paulo, onde estavam José Bonifácio, e seu irmão Martim Francisco, colhendo-se oito mil assinaturas. Prevista a entrega para o final da manhã de 9 de janeiro, no Paço de S. Sebastião, literalmente tomado pelo povo. Às dez horas tem lugar a cerimônia, iniciando Clemente Pereira seu discurso, logo após ligeiro pigarro na garganta: “Senhor! A saída de V. A. dos Estados do Brasil será o fatal decreto de independência deste Reino”!
– Disse o Príncipe: “Fico. Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto, diga ao povo que fico”!
A fim de documentar a solicitação lavrou-se, em sessão especial do Senado da Câmara, o “Auto de Vereação”, cuja leitura se fez acompanhar de muitos vivas ao Brasil, assacados pelo grande público, presente ao largo. Sim, mas quais as primeiras notícias de um janeiro, passados dois centenários? Um Paço do Governo transformado em Gabinete do Ódio, uma Câmara sem a altivez de Clemente Pereira; economia em declínio; negacionismo, embora o alerta de uma imprensa responsável, que lembra G. Ledo. Ao contrário, uma população pouco entusiasmada, pedindo que o medíocre mandatário se Vá!
Jornalista