Ou você tem juízo ou é jornalista!

Esses dias, ouvi algo sobre a profissão de jornalista afetar o juízo do profissional.

Então é isso! Eu ficava procurando uma justificativa, mas, só agora chegou: sou doida porque escolhi ser jornalista. Tudo passou a ter sentido!

Até minha adolescência, em Pombal, eu era uma pessoa normal. Um poço de inocência. A minha rotina era do sítio pra cidade. O máximo de coisas diferentes que eu fazia era comer mostarda com cachorro quente, na Festa do Rosário e sorvete da Maguary, nos dias de feira.

Puxando pelo juízo, embora já fraco, de vez em quando fazia umas coisas “anormais”, mas, nada que pudesse ser denominada de doidice. Tirava retrato pisando na grama da praça, descia numa pedra inclinada na Prefeitura que a gente empombou que era um escorrego e só descobria a verdade quando o guarda saía correndo atrás da gente. Depois, esquecia e ia de novo. Até aí nada de anormal.

Ainda teve o dia em que me estabaquei no chão do corredor da escola quando corria desesperada pra comer rapadura na merenda. Simplesmente, a calça abriu de cima abaixo. Fora isso, a minha vida era uma serenidade só.

Até que fiz 18 anos e me despenquei pra capital, fazer jornalismo. A póbi! Nem imaginava o que estava por vir. Só sei que, de loucura em loucura, em 2020, faço 28 anos de profissão.

No início, tava mais perdida do que cego em tiroteio. Até que fui me achando, me apaixonando pelo curso e endoidando, ali mesmo na faculdade.

Primeiro, as aulas, os livros, os textos e aquela atmosfera de faculdade que foram chacoalhando o meu juízo. Era um estímulo pra pensar fora da caixa.

Depois, você começa a trabalhar e, onde chega, fica tentando enfiar o tal pensamento fora da caixa e, na maioria das vezes, fica somente na tentativa. A maioria das caixas já tá fechada. E você vai entrando num estágio de loucura ainda maior quando percebe o mercado: muito trabalho, correria, salário baixo e, mesmo assim, se apaixona pela profissão e isso é cada vez mais crescente e contagioso. Seria o corona?

No meu caso, comecei como produtora, função na qual observei – quando dava tempo – que sanidade mental e jornalismo não combinam. Ou você tem juízo ou é jornalista!

Em meio aquela rotina ensandecida de procurar assunto, ficar ligada nas novidades do tema do momento, ligar pra entrevistado, fazer pauta, monitorar repórter, cometi uma loucura. Naquele momento, surgiram os primeiros sinais da minha insanidade.

De um telefone, da minha mesa, liguei pro outro aparelho que também ficava na minha mesa. A prova da doidice vem agora: quem atendeu fui eu mesma. Ou seja, eu ligando de mim para mim mesma! Quando percebi a voz familiar – a minha – desliguei, olhei prum lado, pro outro, toda desconfiada: será que disfarcei bem ou perceberam que tou ficando doida?

Perceberam e passei a ser repórter, estágio maior da loucura. Grávida, cheguei a fazer matéria de protesto com o tirinete de pedra truano no pé do ouvido; de desocupação de sem-teto que sempre acontecia mei-dia em ponto, num calor de torar, clima tenso, misturado com revolta, incertezas, gritos e choro na luta por moradia.

Em momentos como esses, é que surge outra questão da profissão: jornalista tem coração?

Né por nada não, mas, no meu caso, se tem uma coisa que é maior do que a minha loucura e do que o meu cabeção, é o coração. Por mais que o profissional esteja ali pra observar, anotar, entrevistar e reportar, tome choro, tristeza, revolta e felicidade também.

Porque o jornalista é assim: um mói de coisa junta. E, trabalhando ou não, a gente não desliga. Passa o tempo todo analisando, questionando, pensando, refletindo e querendo mudar o mundo. Lembra o pensar fora da caixa? Nunca vamos desistir. E nesse puxincói, fica difícil ter o juízo no lugar.

E a máxima do jornalista bem que podia ser: A gente começa doida pra ser jornalista; depois, vira uma jornalista doida, e, mesmo assim, continua doida pelo jornalismo.

Eu vivo do jornalismo, desde quando me formei, no início dos anos 90. Até que em 2014 passei a desempenhar mais uma função: a de humorista. Há quem diga que sou uma jornalista engraçada e eu digo que o humor sempre esteve presente na minha vida. Desde criança. Afinal, sou filha de pais bem munganguentos. Aprendi com eles a rir de nós mesmos. Isso ajuda nos momentos mais sérios da vida. Há 10 anos, resolvi “empacotar” esse humor orgânico e botar “à venda” em forma de standup, textos, crônicas, podcasts e criação de conteúdo para o insta: @romyeschneider.

2 COMENTÁRIOS

  1. Minha amiga, jornalismo é tua grande vocação, e, quando mistura com tua veia cômica, fica loucamente perfeito! Pense numa doida cheia de juízo! Amo

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