“Divisor de águas”

Posso garantir que o dia 1º de agosto é o grande divisor de águas da minha vida! Antes, eu era uma menina, com 18 anos, morando em Pombal. De repente, como num passe de mágica, estava eu, em João Pessoa, onde continuo até hoje, 35 anos depois.

Naquele dia, em que cheguei do sertão, tava mais perdida do que cego em tiroteio. Da rodoviária fui direto pra UFPB onde ia cursar jornalismo. Como se não bastasse o medo de enfrentar o novo, me perdi. Nunca tinha visto um lugar tão grande como aquele. Pensei logo “É quase do tamanho de Pombal”. Pra completar, ainda tava caindo um toró. Oh aperreio da mulesta! A vontade de voltar pra casa era grande.

Fico me perguntando se, até hoje, eu ainda não tô perdida como naquele 1º de agosto. Sempre tive a impressão de que, quem sai de sua terra vai estar sempre perdido, embora eu ame João Pessoa, a capital mais linda que conheço.

Não dá pra saber como seria a minha vida se eu tivesse continuado na minha terra. O que sei é que em João Pessoa consegui muito mais do que sonhei. Ou até que nem cheguei a sonhar. E, novamente, aconteceu tudo como num passe de mágica. De repente, virei cerimonialista dos eventos culturais e esportivos do SESC; logo depois, repórter de TV; assessora de imprensa; me apaixonei, casei, tive dois filhos. Só pra falar o que foi e é bom, afinal, sou a mulher do lema “me diga só o que for bom”.

Foram estas palavras que ouvi de mainha quando vim embora. Provavelmente, mesmo sem saber, ela queria proteger a mim e a ela de coisas desagradáveis pelas quais tinha certeza que eu passaria e ainda passo. Como todo ser vivente.

Hoje, aos 53, tô redirecionando a minha carreira. Além de jornalista, virei humorista. Depois de 30 anos no jornalismo, profissão que amo, senti muita vontade de ter mais alguma coisa que me chacoalhasse e queria compartilhar essa sensação com o público, no palco. Foi quando surgiu a ideia de fazer standup. Está sendo muito mais do que imaginei e sou grata a todos e todas que gostam do meu trabalho.

Quando me perguntam aonde isso vai dar, respondo que não faço a menor ideia. Quem sabe o que vai acontecer daqui a pouco? De repente, será mais um divisor de águas: a minha inquietação presente numa vida dedicada somente ao jornalismo, passa a fazer parte também do humor. A ideia é juntar o meu humor espontâneo, com essa energia que anda comigo desde que vim ao mundo. Muitos chamam de agonia, outros, ansiedade e há também quem diga que sou avexada. Cá prá nós, sou tudo isso junto e um pouco mais.

Mais um divisor de águas: dividir toda essa energia com os parentes, amigos, amores, público, plateia, seguidores e quem mais chegar perto e longe também.

Eu vivo do jornalismo, desde quando me formei, no início dos anos 90. Até que em 2014 passei a desempenhar mais uma função: a de humorista. Há quem diga que sou uma jornalista engraçada e eu digo que o humor sempre esteve presente na minha vida. Desde criança. Afinal, sou filha de pais bem munganguentos. Aprendi com eles a rir de nós mesmos. Isso ajuda nos momentos mais sérios da vida. Há 10 anos, resolvi “empacotar” esse humor orgânico e botar “à venda” em forma de standup, textos, crônicas, podcasts e criação de conteúdo para o insta: @romyeschneider.

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