“Gosto de amor”: 41% das crianças até seis meses são amamentadas exclusivamente com leite materno

A maternidade bateu à porta da secretária Aline da Silva Lima há um ano e oito meses e trouxe em uma única gestação duas crianças: Calleb e Cecília. Sem poder contar com uma rede de apoio, a mamãe não se rendeu aos desafios e conseguiu amamentar o casal de gêmeos. “A experiência com a amamentação, inicialmente, foi dolorosa, tive fissuras na mama. Mas o maior desafio foi não ter uma rede de apoio, você se ver sozinha – meu esposo precisou voltar ao trabalho no 15º dia de vida dos nossos filhos – com duas crianças que precisam única e exclusivamente de você foi bastante difícil”, relata a mãe de primeira viagem.

No Agosto Dourado, mês dedicado ao Incentivo do Aleitamento Materno, a pediatra do Hospital do Hapvida, Ivna Toscano, reforça que os benefícios do aleitamento materno são inúmeros, e vão desde o fortalecimento do vínculo mãe-bebê, aporte nutricional de qualidade, chegando ao desenvolvimento da imunidade da criança.

Conhecendo todos esses benefícios, a médica Nayana Bertulino, está na sua segunda gestação e teve a oportunidade de amamentar seu primogênito Miguel, que hoje tem dois anos e três meses e agora amamenta Gustavo, de apenas 50 dias de vida. Apesar de já conhecer o processo de amamentação, Nayana também enfrentou e enfrenta alguns desafios com a amamentação. “Do primeiro tive fissuras, fiz tratamento, fazia livre demanda. Miguel teve alergia à proteína do leite de vaca (APLV) e, ainda assim, consegui manter ele em aleitamento até 11 meses, quando ele deixou sozinho. Já com Gustavo não tive problemas com a pega e não tive fissuras. Mas após 15 dias do parto, tive uma candidíase mamária, tratei durante 14 dias. Depois disso, iniciou uma dor em um dos mamilos até que descobrimos que tinha um ducto obstruído. Pude contar com a assessoria de profissionais especializados e que me ajudaram com a desobstrução. Hoje ele segue em Aleitamento Materno Exclusivo (AME), e livre demanda”, compartilha.

A pediatra do Hapvida ressalta que o leite materno fornece ao bebê anticorpos produzidos pelo sistema imune da mãe, fortalecendo a imunidade do bebê contra agentes agressores que a mãe teve contato. “Através do leite materno, o bebê também recebe probióticos de alta qualidade que vão também ajudar no fortalecimento do sistema imune”, destaca a médica que justifica o porquê do leite materno ser considerado uma espécie de vacina.

Lucca, que é filho da jornalista Haryanne Arruda, tem dois anos e seis meses e segue mamando. Haryanne não teve problemas com fissura, leite pedrado ou qualquer outro enfrentado por algumas mulheres no processo inicial de aleitamento materno. Mas, diferente das demais crianças, Lucca foi prematuro e a amamentação iniciou por meio da sonda. “Inicialmente eu ordenhava o leite e ele mamava via sonda por ter tido a necessidade de passar 12 dias na UTI. Apenas no décimo dia tivemos o primeiro contato físico da amamentação. A dificuldade foi enfrentar esse começo, pois desde a gestação eu queria muito amamentar”, destaca a comunicadora.

Benefícios – De acordo com dados da ONU Brasil, bebês amamentados exclusivamente têm 14 vezes menos probabilidade de morrer do que os que não são amamentados. Na atualidade, apenas 41% das crianças entre zero e seis meses de vida são amamentadas exclusivamente, nesse meio, estão os gêmeos Calleb e Celícia, os irmãos Miguel e Gustavo e o pequeno Lucca. Ainda de acordo com a ONU Brasil, os Estados-Membros da OMS (Organização Mundial de Saúde) se comprometeram a aumentar para, pelo menos, 50% até 2025.

“Crianças que mamam exclusivo até os seis meses têm menos chance de adquirir infecções graves e ter desfechos desfavoráveis, aqueles que mamam até os dois anos reduzem o índice de mortalidade infantil. Vidas são salvas pelo aleitamento materno”, reforça Ivna Toscano.

Agosto Dourado – A Campanha Agosto Dourado visa incentivar e conscientizar as famílias para a importância e os benefícios do aleitamento materno, sensibilizando a população para que ele seja reconhecido como fundamental para o desenvolvimento infantil. “Precisamos encorajar essa prática, incentivar as gestantes e lactantes, trazer orientação e educação sobre esse assunto e sobre os benefícios dessa prática. Essa semana traz à sociedade a importância desse tema”, frisa a pediatra.

Fortalecendo vínculos – A médica do Hapvida reforça ainda que o aleitamento materno é capaz de fortalecer o vínculo entre mães e filhos. “Fisiologicamente falando, a sucção do bebê libera ocitocina (famoso hormônio do prazer) que faz com que a produção láctea aumente, diminui o risco de abandono materno e reduz o risco de depressão puerperal, então fortalece mais ainda esse vínculo. Mãe e bebê ficam em contato físico por mais tempo durante o período de amamentação e isso traz ao bebê satisfação pela necessidade atendida de toque físico, afeto e sucção”, lembra Ivna Toscano.

Apesar dos diversos desafios enfrentados por Aline, Nayana e Haryanne, elas concordam com a pediatra quando o assunto é fortalecimento de vínculo. Destacando que o olhar, o cheirinho, o afeto, e o desenvolvimento (tanto físico como intelectual) são elementos que se entrelaçam e fazem com que as adversidades sejam superadas com muito amor. Quem comprova isso é o próprio Lucca, que ao ser questionado qual o gosto do leite da mamãe, apesar da pouca idade, é categórico e firme na resposta: “Gosto de amor”.

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