Principal jornal de Brasília não paga salários e jornalistas entram em greve

CARTA ABERTA DA REDAÇÃO DO CORREIO BRAZILIENSE

Por meio desta carta aberta, nós, funcionários da redação do Correio Braziliense, com o apoio do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF), manifestamos nosso inconformismo com o atraso e a irregularidade persistentes no pagamento dos salários por parte da empresa – não apenas para os jornalistas. Desde segunda-feira, 8 de março de 2021, estamos novamente em greve, como nos mantivemos por três dias em dezembro último, por motivo semelhante.

Rejeitamos o pagamento parcelado dos salários, que prejudica em muito a continuidade do trabalho da equipe de jornalistas, que preza por levar a melhor informação aos moradores do Distrito Federal. Como se repete há seis meses, esbarramos com a incerteza quanto a conseguirmos pagar em dia os nossos boletos, ou arcarmos uma vez mais com os juros por atraso. Lembramos, oportunamente, que a situação é ainda mais difícil para os colegas em função de chefia, que acumulam atraso ainda maior e desde mais tempo.

Aonde o Correio Braziliense pretende chegar?

A relação se deteriora ainda mais ao constatarmos que se trata apenas do capítulo mais recente em uma longa lista de pendências financeiras da empresa com os trabalhadores. Somam-se o atraso de quase seis anos nos depósitos do FGTS; férias atrasadas desde 2018 e pendência superior a um ano no pagamento de tíquetes (alimentação e refeição). Na prática, os jornalistas e demais trabalhadores sofrem uma redução salarial forçada.

Mais uma vez, perguntamos: aonde a S/A Correio Braziliense pretende chegar?

Em setembro passado, o Sindicato dos Jornalistas, por decisão de assembleia, celebrou com a empresa um acordo judicial em ação movida para exigir o pagamento das férias e do auxílio alimentação em atraso até então. Em mais uma da série interminável de gestos de boa vontade, a redação aceitou o parcelamento dessa dívida, de maneira que estivesse concluída a quitação integral para todos no prazo de 18 meses. Apenas a primeira parcela foi paga integralmente, no mesmo mês. Em outubro, foi honrado apenas metade do valor, e desde então o acordo segue em descumprimento.

Ao cruzar os braços uma vez mais, os jornalistas do Correio Braziliense não ignoram ou minimzam a situação da empresa. Ao contrário: como os demais trabalhadores, convivemos com ela há mais de cinco anos. Em fevereiro, em nome de favorecer o pagamento que venceria em 5 de março, a redação aceitou, em assembleia, estender até 31 de março o prazo para quitação do 13º salário vencido em 31 de dezembro – do qual recebemos, até hoje, apenas 30%.

Os jornalistas do Correio têm plena consciência das difíceis condições impostas ao país por um ano de pandemia. Não apenas convivem com os seus desdobramentos, como se desdobram cotidianamente na cobertura do noticiário sobre a tragédia diária vivida pelo país – e pelo DF. Porém, se às empresas são oferecidos mecanismos legais como a redução de salários e jornada de trabalho, ou mesmo a suspensão temporária de contrato, aos trabalhadores restam apenas os instrumentos de sempre para a defesa de seus direitos mais elementares.

A greve é um deles, e a ela recorremos, novamente, pelo esgotamento de outas vias. A redação do Correio Braziliense retornará ao trabalho quando todos tiverem recebido o pagamento integral pelo mês trabalhado.

Com essa carta-aberta, nos dirigimos à opinião pública, à sociedade civil, a entidades e representações que contam há 61 anos com as informações transmitidas diariamente pelo jornal. Estendemos a nossa solidariedade aos demais trabalhadores da empresa e nos apresentamos para que possamos tratar, juntos, de iniciativas e alternativas que nos aproximem naquilo que aflige e castiga a todos e a cada um.

Cientes da nossa responsabilidade social, saímos a público em nome dos nossos direitos.

Brasília, 9 de março de 2021

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