O nordestino é, historicamente, um revoltado. Vê e sente sua região, por vezes humilhada, pelas bocas sujas de alguns sudestizados chancelados de autoridades. Herda do aborígene a fibra, na paz e na guerra, metido na expulsão holandesa, quando temos um Vidal de Negreiros, Felipe Camarão e Henrique Dias; na consolidação da Independência, aí temos um Barros Falcão, uma Maria Quitéria, na Bahia; dos revoltosos Leonardo Castelo Branco e capitão Francisco de Alencar, decididos despacharam do território piauiense e do Maranhão, o major Fidié.
E a Revolução Pernambucana de 1817, com seu idealismo republicano? Ana Lins, de Alagoas; do capixaba e líder do movimento, Domingos José Martins, de José Peregrino de Carvalho, o “Tiradentes da Paraíba”; dos revolucionários Tristão Gonçalves e Bárbara de Alencar, no Ceará, ao todo treze deles levados à forca. A resistência ao autoritarismo de Pedro I, no episódio de dissolução da Assembleia Constituinte de 1924, conhecido na história por “Confederação do Equador”. São episódios, dado seus matizes políticos e ideológicos, sem dúvida refletem nas tomadas de decisão dos governantes do Nordeste. Nada mais que isso o Consórcio feito por eles, neste período de pandemia, em função do negocismo do poder central.
Geneticamente um nordestino é lutador e inconformista. A lição vem da luta indígena contra os europeus invasores, pegando em flechas. Viam, com seus próprios olhos, o saque que faziam de suas terras e escravização de um povo livre, uma prática que ainda perdura. A Rebelião dos Tapuias, pejorativamente “Guerra dos Bárbaros”, de 1687, na capitania do Rio G. do Norte, teve essa característica. Espalhou-se por todo Nordeste, levante que reuniu as tribos Aucurus, Paiacus, Icós, Icopinhos, Bulbis, Arius, Pegas, Caracás, Canindés, Coremas, Caracarás e Bruxaxás. Apesar dessa força aglutinadora só cederam com a escravidão legalizada, e assassinatos indiscriminados pelos bandeirantes.
A morte de um líder tapuia de Açu o estopim dessa guerra, em represália aos opressores, várias vezes derrotados nos encontros bélicos. O rei nomeou o capitão-mor Agostinho César, para hostilizá-los, que para isso recrutou criminosos encarcerados. Aos poucos, os colonizadores se impuseram, diante dos guerreiros, numericamente inferiores, muitos deles aldeados, sob proteção de missionários jesuítas. Todavia, ficou o exemplo do incondicional combate, do qual, de uma forma mais civilizada e pacífica, nós nordestinos herdamos. De nada tememos.
Jornalista