Madre Joana Angélica – 2022, ano rico em datas centenárias, no Brasil, com destaque o 7 de Setembro. A esta, antecipar-me-ei, neste espaço, generosamente a mim disponibilizado, com registros de alguns episódios e de personalidades, anônimas ou não, tentando rememorar o lapso de tempo de há dois séculos. Pretendo fugir, sempre que possível, à temática político-eleitoral, tão em voga no momento. Para a projetada missão, além de outros elementos bibliográficos, contarei com o livro “Independência! No Grito e na Raça”, de minha autoria, repositório de copiosos comentários publicados na imprensa escrita brasileira de 1972. Inicio-me numa homenagem a uma mártir da Igreja, em nosso País.
Trata-se da Madre Joana Angélica de Jezzus (com dois zz), superiora do Convento de Nº Srª da Conceição da Lapa, Salvador. Os independentes baianos vivenciavam uma pressão sem limites, por parte dos portugueses aí residentes, frustrados pois não conseguiram levar de volta Dom Pedro I para Portugal. Suspeitando de que aquela Irmandade estava reunindo insurretos brasileiros a soldadesca lusa, acantonada na cidade, dirigiu-se àquele local, à procura de documentos, segundo estes, comprometedores à Coroa. A ala radical foi acusada de se compor de militantes remanescentes da Revolta dos Alfaiates (1798).
À tarde de 20 de fevereiro de 1822, resolveu invadir o prédio das religiosas, apesar de completamente vazio. Ter-lhe-ia dito Joana Angélica, postada no portão principal, de ferro, e que a entrada só se consumaria acaso passassem por sobre seu cadáver. Teria exclamado, ainda: “Para trás, bandidos. Respeitai a Casa de Deus!”. Em vão, traspassada a golpes de baioneta, atingindo-lhe o coração, de braços erguidos, restou-lhe a morte, instantânea.
O derramado sangue da heroína é ignorado pela maioria dos brasileiros. Ao tombar, sem vida, tinha 60 anos de idade. Filha de José Tavares de Almeida e Catarina Maria da Silva, Joana ingressara no noviciado em abril de 1782, após solicitação apostas em folhas avulsas, desde 1815, professando-o em 1783, a partir do qual exerce funções de escrivã, conselheira e, finalmente, abadessa.
Por que não reverenciá-la, nos altares e no pedestal da Pátria? O Bicentenário da conquista de nosso território independente é uma temporada histórica para se rever essa triste omissão. Difícil sem, dúvida, ao menos a construção de algo que a relembre. No último artigo sinalizei o silêncio de nossas Casas de Cultura, especialmente ligadas à memória nacional. Se a iniciativa não partir destas, depender de seguimentos de esferas oficiais, agora preocupadas com as urnas, é pouco provável que aconteça.