Vi a morte de perto

O sangue subiu e desceu, por todo o meu corpo, num ritmo frenético; o arrepio veio, junto com a tensão imediata no pescoço e a dor de cabeça de rachar o quengo. Estava eu ainda viva? Não saberia dizer naquele momento. Até que – nunca pensei que fosse dizer isso – fui salva por um ônibus. 1510 era o número do meu salvador. Nunca vou esquecer.

“Nunca vou esquecer que vi a morte de perto e ela tava em forma de carne, osso e pedras. Assim mesmo. No plural”

Lá vinha eu, naquele que parecia apenas mais um dia. O cenário: Epitácio Pessoa, principal avenida da nossa linda João Pessoa. O destino: ponto do ônibus. O horário: umas 13 horas.

“Perdida em meus pensamentos”, me achei na pior situação da minha vida. Uma das piores. Um homem magro, alto, muito alto, todo de azul, vinha em minha direção, quando olhou pra baixo e viu um mói de pedra. Resto de construção. Minha destruição.

Se abaixou, pegou umas pedras e começou a jogar em minha direção. Por sorte, que jogava como se fosse uma bola de boliche. Rasteira. Mas, era com tanta força, que a bicha deslizava até longe. Pra minha sorte, não fez strike. Mas, fez um estrago da porra no meu juízo.

Ao mesmo tempo que jogava a pedra, olhava pra mim, gritando, com fogo nas venta e repetia, várias vezes: “entende agora do que tô falando?” “entende agora do que tô falando?”

Com o corpo tomado pelo medo paralisante, o ponto do ônibus, que tava a poucos metros de mim, parecia numa distância daqui em Pombal.

E o medo de dar as costas? Num relance de coragem que ainda habitava em mim, olhei rápido e vi que ele tinha seguido, sem olhar pra trás. O alvo passou a ser os carros.

No ponto do ônibus, comentaram que ele tava em sofrimento mental. “Toda vez que surta, fica assim”. O ônibus chegou. O 1510. Após sentar e sentir o vento na cara, voltei a respirar, parei de tremer e segui pensando no que soube a cerca da saúde mental daquele homem. Quem viu a morte de perto, afinal?

“Entende agora, do que tô falando?”

Eu vivo do jornalismo, desde quando me formei, no início dos anos 90. Até que em 2014 passei a desempenhar mais uma função: a de humorista. Há quem diga que sou uma jornalista engraçada e eu digo que o humor sempre esteve presente na minha vida. Desde criança. Afinal, sou filha de pais bem munganguentos. Aprendi com eles a rir de nós mesmos. Isso ajuda nos momentos mais sérios da vida. Há 10 anos, resolvi “empacotar” esse humor orgânico e botar “à venda” em forma de standup, textos, crônicas, podcasts e criação de conteúdo para o insta: @romyeschneider.

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