A magia da Chuva

Nos sertões quando a invernada chega, no entardecer o céu escurece, das nuvens negras e robustas, clarões iluminam com riscos velozes a imensidão do céu.

São relâmpagos que anunciam seguidos estrondos, trovões que estremecem a terra, balançam paredes, meninos choram, os pássaros se recolhem e o medo toma conta do coração dos caboclos.

Mesmo assim, é bela natureza.

Da janela de uma casa de fazenda, como é bonito de se ver o céu despejando água, trazendo sorriso para o verde da mata, promovendo o som das correntezas e das cachoeiras.

No campo, a chuva é sinônima de alegria, de fartura e de dias melhores.

Quando se vive numa região que é assolada por períodos de estiagem, a chuva é sempre bem-vinda, já que enche açudes, rios e riachos, molha o solo, que por sua vez permite que o homem prepare a terra para o plantio de sua lavoura.

A chuva é a esperança do sertanejo, que de cede sonha com tempos melhores, de colheita do milho, do feijão, das frutas, de muitos peixes, curimatã, tucunarés, tambaquis, tilápias, traíras e piabas.

Meninos fazem a festa, pulam de pontes e desafiam as correntezas.

Mas, quando olhamos de uma janela urbana, a chuva é vista por outro ângulo.

Não sei se vocês já experimentaram abrir uma janela de uma casa ou de um apartamento, precisamente num dia de muita chuva. Com raios ou não, com ou sem trovões, a sensação não é a mesma daquela que se encontra no coração do homem do campo.

Na cidade, a chuva não provoca alegria, pelo contrário, quando as nuvens escurecem os céus, as águas logo inundam as ruas e avenidas, o trânsito vira caos.

Nas chamadas áreas de risco, casas e barracos, vulneráveis recintos são alvos das avalanches de lamas e pedras, que soterram seres, lutas e sonhos. Colégios pedem licença à educação e se transformam em abrigos, aglomeram um só ambiente os retalhos e detalhes da miséria da sociedade.

Na verdade, de qualquer janela, parece que se bem olharmos o tempo chuvoso, vislumbraremos e perceberemos uma natureza sombria. Pingos e mais pingos que caem em voo livre, embasam e reduzem o campo da visão, pintando de cinza o mundo, fazendo com que o clima denso e frio imposto pela natureza, penetre colocando no nosso âmago uma sensação de tristeza.

Os pingos parecem mais lágrimas que os céus derramam sobre nós, molhando não só o nosso corpo, pois, inexplicavelmente, conseguem mexer com o espiritual, desenhando nostalgia em nossos corações.

A natureza tem suas magias, a chuva é uma delas.

O importante é harmonizar a convivência entre homem e chuva.

Onaldo Queiroga

Onaldo Rocha de Queiroga é natural de Pombal, formou-se em Direito em 1987, ocupando diversos cargos na área, em várias cidades paraibanas. Atualmente é juiz da 5ª Vara Cível de João Pessoa e ocupa o cargo de juiz auxiliar da presidência do Tribunal de Justiça da Paraíba. Ingressou na literatura com o livro Esquinas da Vida e prosseguiu com Baião em Crônicas, Reflexões, Por Amor ao Forró, Crônicas de um Viajante, Meditações, Monólogos do meu Tempo; Efeitos, Homíneos e Naturais.

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