Às vésperas de Abril

Adentramos no mês véspera de abril, quando aconteceu o Golpe  militar de 1964. O tempo conspirava contra os destinos do Brasil, à época  presidido por João Goulart. Acusado de esquerdinização, porque propunha amplas reformas de base, onde se incluíam os limites das remessas de lucros, pelas empresas multinacionais, hoje às escâncaras, com a burguesia e os capitalistas do País, especialmente aqueles de grandes fortunas, sob a mira do operariado, que se conscientizava. Não poderia ser diferente a reação imperialista norte-americana. Ademais, um ano pré-eleitoral, com dois prováveis candidatos ao Palácio do Planalto, o  jornalista e governador da Guanabara, Carlos Lacerda, e o ex-presidente, JK, o primeiro, da extinta UDN, representando o que havia de mais retrógrado e entreguista do País, e o segundo, ideologicamente comedido, já testado pelo seu espírito empreendedor, iniciando seu mandato no Catete e o  concluindo em Brasília, de que foi seu fundador.

Os dois posicionamentos se refletiam nas regiões brasileiras, especialmente naquelas onde o ativismo de resistência, contra as classes dominantes, ligadas ao feudalismo, se faziam susbstancialmente presentes, envolvendo os campesinos, seguimentos estudantis e jornalistas, por excelência. Era o caso da Paraíba, cuja capital receberia a visita do governante guanabarino, em alguma hora de 3 de março daquele ano. Pretendia arregimentar seus correligionários locais, em favor de sua candidatura.

 Nunca imaginávamos que nossa democracia viria de ser golpeada, questão de dias, com tanta virulência. Fruto dessa ingenuidade, nós  secundaristas, universitários, companheiros de imprensa e pessoas das alas progressistas, no auditório do antigo prédio da Faculdade de Direito, nos reunimos em veementes protestos. Ousados fomos no cumprimento do  histórico “Não”, de João Pessoa ao postulante oficial do Catete, Júlio Prestes. A reação retrógrada foi fulminante, pouco terminando em tragédia, não fora a intervenção da Guarnição  do Exército, estacionada para proteger o bem público. Mas não escapamos de sanções que a ditadura nos imporia. Resignados, pois Lacerda cancelou sua viagem.

Mais maduros, pelas lições que a vida nos proporciona, pelas verdades que a história nos conta, de que somos uma Nação cujas instituições gravitam em torno dos anseios golpistas. Em 1823, Pedro I destituiu a 1ª Constituinte; a Proclamação da República foi uma alternativa dos cafeicultores; Vargas explica muito bem na sua Carta Testamento, porque preferiu a morte; Dilma, vítima de interesses contrariados. Precavenhamos, pois até outubro poderemos ter um novo março.  

Jornalista

 

Inocêncio Nóbrega Filho, nasceu no município de Soledade - PB. Economista, historiador e militante do Jornalismo, há mais de 50 anos. Ingressou na vida de escritor, com o lançamento em 1974, do livro Malhada das Areias Brancas., onde faz um levantamento histórico de sua terra natal. Sua mais recente obra é "Independência! No Grito e na Raça", onde faz uma retrospectiva da Independência do Brasil.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui