Há uma criança morando sempre no meu coração

Se fosse pra escolher uma música que me define criança, seria “Bola de meia, bola de gude”, de Mílton Nascimento e Fernando Brant: “Há um menino, há um moleque morando sempre no meu coração. Cada vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão”.

Vivo de mãos dadas com a infância porque oh adulta que balança é essa que vive em mim.

Sempre lembro de quando eu era bem pequena, no sítio e, um dia, mainha pediu pra eu ir buscar sal na vizinha. Quando voltava, meti o pé na carreira e o sal se espatifou no chão. Apanhei com terra e tudo e quando cheguei em casa, disse: tome mainha. Jeleta disse que o sal era assim mermo.

Mas, nada se compara ao que aprontou a minha sobrinha Ana Lara, 10, aos 4 anos. Minha irmã, lavando a louça, quase quebra os pratos quando viu a presepada: a menina agarrada com um sapo, dos maiores que tem, mais conhecido por cururu. O bicho chega tava espragatado no mei dos peito da pantinzeira.

No dia seguinte ao lançamento do meu blog, a irmã dela, Clara (11), que tinha 5 anos, foi a inspiração pra um texto que eu precisava fazer. Recorri às mungangas infantis.

– O que você achou da festa?

– Linda, tia! O prédio bonito, escada massa, a comida uma delícia…

– Oxe e eu?

– Muito linda também, mas, seu cabelo tava todo assanhado!

Pronto! A sinceridade infantil me inspirou.

Sandi, 19, adora invencionice. Foi ele, quando criança, o inventor do meu tripê feito com três cabos de vassoura e uma garrafa pet. Quase botava a minha casa abaixo, mas, no final, deu certo.

Quando o meu filho Ian (20), era pequeno aprontava muitas. Um dia, eu, ele e mainha fomos almoçar na rua e ele, varado de fome. Quando chegamos num restaurante e percebemos que era caro, mainha disse: Nam! Vamos pra outro canto. Aqui o quilo é muito caro.

Ian, disse, em cima da buxa:
– Oxe Voinha! A gente não precisa comer um quilo não!

As crianças da sua família também são assim? Sem amarras, sem se preocupar com o encaixe das formas e das cores? “E aí, vamos pensar fora das caixas ou brincar com elas ou os dois?”

*Este texto é uma reprodução de outro publicado no meu extinto blog “Munganga por Romye Schneider”, escrito há seis anos. A professora Raísa Albuquerque resgatou o original e o levou pra sala de aula. Pediu aos alunos que fizessem desenhos e textos das infâncias deles, a partir das mungangas infantis do meu texto.

A felicidade é tanta que nem cabe no meu peito de adulta.
Ainda bem que “há um menino, há um moleque morando sempre no meu coração…”

Instagram: @_romyes

O humor sempre esteve presente na minha vida. Desde criança. Afinal, sou filha de pais bem munganguentos. Até hoje, pra onde me bulo, vejo uma coisa engraçada. Mesmo nos momentos mais sérios. Há oito anos, resolvi “empacotar” esse humor orgânico e botar “à venda”, em forma de standups, textos, crônicas, podcasts e vídeos postados nas redes sociais. No insta: @_romye e no youtube: Romye Schneider. Divido tudo isso, com o jornalismo, profissão que amo e exerço há 30 anos.

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