Medo de trepar ou trepar no medo

Se tem uma coisa que tenho medo nesse mundo é de trepar. Enquanto outras pessoas, trepam no medo. Ficou confuso? Vou tentar confundir mais ainda. Minha fase celibatária tá bagunçando qualquer intenção de ter juízo. Na verdade, nunca tive muito essa finalidade de ser “normal”. Mas, agora tá pior. À medida que a idade avança, diminui a vontade de ser “igual”. Arrudiei tanto que nem sei mais onde tô…ah! lembrei! “Medo de trepar ou trepar no medo” é o título da crônica de hoje. É sobre isso!

Quarta-feira, à tarde, voltando da terapia e, enquanto aguardava o ônibus, me deparo com uma cena intrigante. Um morador de rua, atravessou a avenida Epitácio Pessoa, carregando artefatos produzidos pelo próprio, para tomar uma atitude que, provavelmente, muita gente não tenha coragem. Nem de fazer os artifícios. Pelo menos, não aquelas pessoas que aguardavam os ônibus comigo. Dava pra saber pelos comentários:

– Meu Deus, ele vai cair. E, se cair e um carro passar por cima?
– Oh home doido!
– Nunca que eu tinha coragem de fazer isso! Morro de medo!

Estavam se referindo ao homem que citei acima. Ele subiu numa mangueira enorme igual caminha numa calçada. Mas, ele não fez isso sozinho. Além do cigarro, que não tirava do beiço, já que precisava usar as mãos pra não se estabacar no chão, tinha um fio amarrado na cintura que só entendemos o objetivo depois que chegou no mais alto que pode.

Na verdade, o fio tava amarrado no equipamento pra tirar a manga. Era um pau com uma lata de leite amarrada na ponta. A pergunta agora era:

– Como ele ia fazer pra descer com as mangas?

Ele não contou conversa. E, como quem tira “carta” da manga – não resisti ao trocadilho – puxou duas sacolas do cós da bermuda e tome manga. Até a hora do meu ônibus chegar, contei umas 10.

Dia seguinte, na caminhada com mainha e Joaquim – meu cachorro – falei da astúcia daquele homem, que não saía da minha cabeça. Depois de ouvir aquela história, que eu já imaginava ser o suficiente pra me impressionar, eis que mainha contou a versão dela para uma aventura semelhante que me deixou mais encafifada ainda.

Disse que, quando tava GRÁVIDA, do meu irmão, Rômulo Pierre, também, se arriscou pra saciar o desejo de comer a fruta mais deliciosa de todas – manga espada – e subiu na mangueira. E tava muito bem acompanhada. Ela, meu irmão, a coragem e o desejo de comer aquelas mangas com casca e tudo que chega o caldo desce da mão até o cotovelo.

Até que aparece um vizinho e chamou atenção para aquela “loucura” dela.
– Mulher, você cai daí!
– E depois disso, mainha, aconteceu o que?
– Bom basta! Antes dele chamar a minha atenção, eu não tava com um pingo de medo. Depois, que ele falou, fiquei morrendo de medo e quase nem conseguia descer.
Eita! Como é mesmo o título? “Medo de trepar ou trepar no medo”! Então, é sobre isso!

Eu vivo do jornalismo, desde quando me formei, no início dos anos 90. Até que em 2014 passei a desempenhar mais uma função: a de humorista. Há quem diga que sou uma jornalista engraçada e eu digo que o humor sempre esteve presente na minha vida. Desde criança. Afinal, sou filha de pais bem munganguentos. Aprendi com eles a rir de nós mesmos. Isso ajuda nos momentos mais sérios da vida. Há 10 anos, resolvi “empacotar” esse humor orgânico e botar “à venda” em forma de standup, textos, crônicas, podcasts e criação de conteúdo para o insta: @romyeschneider.

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