Dizem que “a vida é feita de escolhas”. Só quero que alguém me responda se, por acaso, fui eu que escolhi lavar a geladeira – a coisa mais chata da casa – em pleno domingo?
Tirando o fato de que ela tava imunda, será que não fiz essa “escolha” pra esquecer que, novamente, o meu filho viajou, deixando o meu coração apertado e, dessa vez, mais ainda por ter levado o meu neto, Elias, que nasceu em Portugal, veio pra PB com três meses e, agora, foi embora com seis pra Irlanda.
– Vai mesmo na hora que tá ficando tão sabidinho – dizemos todos, na despedida
Essa foi uma escolha de Caê e da esposa, Lyria. Preciso respeitar, embora a “síndrome do ninho vazio”, dessa vez, em dobro, esteja aqui gritando igual a hérnia de disco enquanto teimo em concluir a minha “escolha” dominical entupida de gelo.
Ainda falando em escolhas, a minha família, que mora no sertão, passou o domingo tomando banho enquanto aguardava o açude sangrar. Parece que esta seria uma ótima escolha pra mim hoje. Não sei se pela alegria sertaneja – ver um açude sangrando é algo inesquecível e feliz – ou se por lembrar de uma infância onde eu era somente cuidada.
Agora que cresci, tenho que ver os filhos voarem porque ‘filhos nasceram pra voar”. Neste instante, escolho discordar dessa frase. A gente quer todos por perto, nem que seja um longe/perto. Quando mainha se mudou pra João Pessoa, cogitou a possibilidade de transformar a casa dela num prédio onde morariam os cinco filhos.
Esta escolha não vingou e, acabou que, cada um mora nas suas casas. Uns pertíssimos; outros, nem tanto e alguns, perto/longe, mas, nenhum tão distante onde só um avião leva a pessoa até lá. Coisa que gosto menos do que lavar geladeira.
Caê “escolheu” conhecer o mundo, novas culturas e diversas possibilidades e, todo dia, eu também faço várias escolhas diferentes, muitas alcançáveis e desejáveis, como agora, por exemplo, quando tô concluindo este texto e outras indesejáveis, como voltar a lavar a geladeira.